Fotos: Jô Folha

A Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgaram o Atlas dos Municípios da Mata Atlântica. O levantamento detalha a situação dos remanescentes florestais e seus ecossistemas associados. A categoria de Mata do Atlas tem como critério pontuar a floresta nativa em estágio primário, médio ou avançado de regeneração com, no mínimo, três hectares de área contínua preservada. O Atlas também calcula as taxas de desmatamento e degeneração da mata nativa. No total de 3.429 municípios brasileiros que tiveram suas áreas verdes identificadas, Pelotas consta na lista e ocupa o 1.611º lugar no ranking do desmatamento - as áreas de Mata Atlântica preservadas locais não ultrapassam os 3,28%. Um dado que inquieta especialistas.

O professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Marco Silva Gottschalk, prefere não mensurar a quantidade de remanescentes florestais (como são chamadas as regiões preservadas), entretanto, admite ser um número baixo. "Se a gente considerar isso pouco, coloca em xeque a importância dessa área", explica. Docente do Departamento de Ecologia, Zoologia e Genética e vice-diretor do Instituto de Biologia, o especialista aponta algumas problemáticas que podem responder o índice de 3,28%: a preocupação econômica, a falta de incentivo e investimento do Poder Público em políticas socioambientais, a insuficiência de mecanismos e equipamentos dos órgãos reguladores da legislação ambiental e a atividade rural.

Gottschalk ainda vai além. Para ele, o desmatamento está intrincado à história do país. "A Mata Atlântica foi a primeira região a ser colonizada pelos portugueses, desde o descobrimento ela vem sendo desmatada. O que resta dessa área em maior parte é difícil de acessar; é o que resistiu ao processo de interação com o homem", frisa. Em contrapartida, ele destaca ser possível estabelecer uma relação entre a população e o meio sem destruí-lo, portanto a necessidade de iniciativas voltadas à educação ambiental.

Com um pensamento na mesma linha, o diretor administrativo da empresa Rastro Selvagem, Gustavo Arruda, também reivindica por mais atenção ao assunto. Após sete anos e visitas a 39 municípios gaúchos com atividades de conscientização, ele alega que o conceito de preservação das matas pelo fato de as pessoas também fazerem parte da natureza é insuficiente, pois contrasta com a falta de ações significativas do Estado em relação à sensibilização e ao conhecimento da população.

Outro desafio é aliar a conservação dos ambientes naturais à questão socioeconômica. Para ele, a discussão sobre preservação ambiental pouco deve evoluir se o debate não for ampliado. "Muitos ainda acreditam na ideia de que as matas são apenas fonte de recursos e matéria-prima, que elas estão ocupando espaço que poderia ser usado para a expansão imobiliária ou agricultura extensiva", critica. A mata é capaz de aliar geração de recursos com qualidade de vida se monitorada por uma gestão ambiental qualificada, em parceria com órgãos públicos, instituições de ensino e a comunidade - complementa.

O que uma vegetação saudável traz?
As condições de alguns pontos na estrada do Totó, entre a Colônia de Pescadores Z-3 e a praia do Laranjal, demonstram a insensibilidade para os cuidados com o meio: sacolas plásticas penduradas em árvores, resquícios de churrasco, latas e garrafas plásticas, para citar alguns exemplos mais comuns de descaso. O básico, como depositar lixo corretamente, sequer é cumprido pela população. "É difícil convencer o público de preservar algo sem que ele tenha benefícios com isso", coloca o professor da UFPel. Gottschalk elencou alguns benefícios que uma Mata Atlântica preservada pode refletir na vida das pessoas:

- Manutenção do ciclo da água
- Manutenção da população de peixes
- Minimiza impactos em solo (é atenuante da erosão)
- Impacto na vida de insetos - sem refúgio na mata, não produzem frutos