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Por mais diálogos
A Feira do Livro de Pelotas encerrou no dia 20 e deixou um saldo positivo para a cidade
Carlos Queiroz -
A 44ª Feira do Livro de Pelotas se encerrou há pouco mais de uma semana. E o saldo, que não se mede apenas pelo número de exemplares vendidos, me pareceu extremamente positivo. A começar pela ideia de patrono e orador, Blau Nunes e Aldyr Garcia Schlee, respectivamente. O público pode ter encolhido, mas não a movimentação no entorno da praça Coronel Pedro Osório, que recebeu o reforço de quem, pelos mais diversos motivos, frequenta o Mercado Central. Formou-se, durante a Feira, um certo corredor da cultura. E o ápice disso foi a união da praça tomada pelos livros com a Virada Cultural.
Respirou-se cultura - nas ruas do centro histórico de Pelotas - em novembro. Gente de todos os jeitos e sentires transitaram da praça para o Mercado. Ao todo, a Feira do Livro teve 140 atividades culturais. A maioria delas feita por escolas do município, sempre um acerto. Estimular os estudantes a se envolver culturalmente e a, de alguma forma, produzir cultura nunca será em vão.
Excelente iniciativa da Secretaria de Cultura ocorreu na Bibliotheca Pública Pelotense: as oficinas de escrita. Paulo Scott e Paula Fábrio, conhecidos nacionalmente, levaram o que entendem por literatura para duas pequenas turmas de homens e mulheres ávidos por se embrenhar nas (in) certezas literárias. Scott já é velho conhecido do público de Pelotas. Em 2012, juntamente com Xico Sá e Fabrício Carpinejar, o escritor participou de bate-papo aberto em uma tenda montada na Feira do Livro.
E aqui está um dos pontos que precisam de mais atenção: o diálogo entre os escritores e o público. Privilegiar o encontro entre quem escreve e quem lê é, também, semear cultura. Se não houver mais momentos estruturados para isso, o risco que se correrá sempre é o de tornar a Feira, por mais que milhares de pessoas circulem pela praça, um encontro de mudos. Retomar a ideia da antiga Tenda João Simões Lopes Neto, destinada especificamente à discussão cultural, é fazer a Feira do Livro crescer em qualidade. Sei que há previsão de recursos ainda mais escassos em 2017. E ninguém é louco de negar a crise pela qual passa o país. No entanto, priorizar o debate sobre as obras e autores, com a presença dos escritores, pode não sair caro. Pode não custar nada.
O leitor duvida? Bastaria chamar, por exemplo, Aldyr Garcia Schlee e Martim César, ambos de Jaguarão, para um diálogo sobre literatura fronteiriça (e universal, é preciso que se diga). Ou chamar, ainda, a turma do 50 tons de rosa - Pelotas no tempo da ditadura, para uma conversa pública em plena praça sobre o período na cidade. Aliás, quem promoveu esse encontro foi a Bibliotheca Pública Pelotense. Poderia haver, como já houve, mesa com os novos escritores. Mesa com alguns dos membros da Academia Pelotense de Letras. Mesa com Gilnei Oleiro, Luis Rubira e Vitor Ramil. Debate sobre literatura e loucura com o Paulo Luís Rosa Sousa e o Pedro Moacyr Pérez da Silveira. Se há cidade no Estado com muitas opções, essa cidade é, sem dúvida, Pelotas. Ou Satolep, como queiram.
Mais de 60 livros foram autografados na Feira. Cerca de 85 mil pessoas circularam pelas alamedas da praça Coronel Pedro Osório. E 60 mil exemplares - muitos com ótimos descontos - foram vendidos. Os números foram menores do que os registrados em 2015. Nada que desanime. Pelo contrário, se a crise for levada em consideração, o resultado merece comemoração. Com pequenos ajustes, a Feira do Livro de Pelotas pode se tornar ainda mais atrativa e culturalmente interessante. Para isso, estimular o diálogo é fundamental.
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