Entrevista
Presidente da AMP diz: “O médico precisa de segurança acima de tudo”
Presidente da AMP, Clarissa Castagno faz balanço da sua gestão e do primeiro Congresso da entidade
Foto: Carlos Queiroz - DP - Encerrando sua gestão à frente da entidade, Clarissa diz esperar que o Congresso se torne recorrente
A Associação Médica de Pelotas (AMP) foi fundada em 1940 e participou, inclusive, da abertura das faculdades de Medicina da cidade. Historicamente um local de debate, organizou, na sexta-feira e no sábado, o 1º Congresso Gaúcho da AMP, com mais de 20 palestrantes e diversos blocos de debates. Presidente da gestão 2020-2023 da AMP, a doutora Clarissa Castagno fez um balanço do evento que ocorre na reta final da sua gestão, marcada, principalmente, pelo enfrentamento da situação pandêmica.
Qual a importância de ter recebido um evento como o Congresso em Pelotas?
A gente teve a ideia de criar esse evento em Pelotas. Ele não era feito, porque nós temos vários no Brasil e no mundo, sobre vários temas, assuntos e especialidades, mas a gente não tinha aqui na região sul. Então, lá em 2020, em plena pandemia, pensamos em fazer o evento e fomos amadurecendo a ideia. Com o término da pandemia, ficamos com tempo restrito, mas fomos conversando com colegas aqui da região para montar uma comissão organizadora da parte científica, criamos os blocos de interesse multidisciplinar. Como a gente é uma Associação Médica com 20 departamentos de especialidades, a gente precisava tentar contemplar a todos. E a aula magna decidimos convidar o médico mais renomado da cidade, que é o Cesar Victora, que atendeu prontamente, foi extremamente solícito. Estamos felizes com o resultado. Foi um grande desafio. Espero que seja replicado a cada gestão.
Nessa reta final da tua gestão à frente da Associação, como tu avalias o cenário para exercer Medicina em Pelotas?
A gente tem duas faculdades de Medicina e, muitas vezes, os alunos que entram não são da região. Se pensar na Universidade Federal, mais distante fica, porque é uma seleção a nível nacional, então vários acadêmicos de outra parte do País vêm. Muitos voltam para seus locais de origem, outros ficam, então é um volume que a gente não consegue definir, como vai se comportar a cada ano. Agora, a cidade é de porte médio, médio-pequeno, mas a região é grande. A gente sabe que existem locais menores ainda com a necessidade de profissionais. Então, ainda continua sendo interessante para quem queira ficar e trabalhar com áreas específicas.
A criação de novas vagas na Medicina é um tema que vem gerando polêmicas. Como a senhora, enquanto presidente da Associação Médica, vê isso?
Não é uma coisa que eu, particularmente, me envolva ou tenha conhecimento maior além das que todos têm. Mas isso é uma coisa que se questiona a nível nacional. A gente precisa de um número adequado de médicos para o atendimento da população e existe uma normatização de médico por milhar de habitantes. Então, tu tens o número de profissionais que se encaixa, porém mal distribuídos. A gente acaba tendo profissionais mais concentrados nas regiões com maior condição de trabalho e acessibilidade. A questão das vagas, do número, precisa ser avaliada no sentido de contemplar um adequado número para a população. Agora, como a gente vai fazer essa distribuição? Existem várias ideias, sugestões, mas ainda não temos a melhor alternativa ao meu ver.
O que seriam as melhores condições para um médico atuar?
Segurança. Acho que segurança e condição de você fazer uma avaliação do paciente, de forma a abordar o problema da melhor forma, é o que se pode querer após uma boa formação. Fica muito difícil, no momento que tu só tens longe daqui um serviço de raio-X, de imagem, que possa te ajudar a atender o paciente, a resolver a situação muitas vezes, isso deixa numa situação de insegurança. Por isso, os grandes centros acabam sendo um imã para esses profissionais. Se tem como fazer uma rede de apoio, acho que a tecnologia vem para isso, e a gente consegue hoje observar possibilidades de trocar informações com colegas a respeito dos pacientes em condições distantes da avaliação que se quer. Isso é extremamente importante. É uma alternativa que vai nos ajudar cada vez mais a trabalhar nestes pontos mais distantes.
Há um constante problema da falta de médicos na zona rural, em algumas UBSs, bairros e cidades mais remotos… O que causa esses problemas?
Acho que a segurança acima de tudo. Em uma região que tu não tenha suporte, depois de trabalhar um mês, dois meses, no terceiro já não quer mais. Como tu vai trabalhar em um lugar onde não consegue atender de forma minimamente adequada aqueles pacientes? Então, independente da situação que um profissional vá conseguir alcançar nesses locais, precisa dar suporte para o médico estar atuando, porque ele vai se dedicar ao trabalho e continuar ali pelo tempo que for necessário para servir. Isso precisa ser melhor trabalhado, sempre prezando a segurança em todos os sentidos.
Agora está voltando o Mais Médicos. A Associação tem posição sobre isso?
Existem várias ideias a respeito dos programas que são feitos em todas as esferas públicas. No Mais Médicos, existe uma ideia adequada de remunerar e dar estrutura para esse profissional ir lá para o interior, porém existem alguns gaps, espaço para melhor adequação, para correção. A gente acaba batendo no Revalida. No Border americano. Se vai para outro país trabalhar, a gente tem que passar por uma série de avaliações que vão te permitir trabalhar ali ou não. Isso é extremamente complexo em qualquer lugar, a não ser que, por exemplo, estejam contratando emergencialmente e façam uma contratação. Mas nós temos médicos o suficiente, formamos muitos médicos. Cada vez mais temos universidades, no mínimo a gente quer um acadêmico super bem formado. Eu acredito que isso precise ser bem avaliado, porque não basta abrir a porta. Talvez falta um programa melhor organizado.
Voltando ao Congresso… Qual tua avaliação?
Todos os convidados eram de extrema competência e expertise nas suas áreas. De novo, se a gente vai falar em formação, é uma oportunidade para o acadêmico chegar perto de um congresso. Isso só agrega no conhecimento, tanto do acadêmico quanto do profissional. Vai poder ter um conhecimento maior sobre outros temas que não são do seu dia a dia, temas como a vida do médico, o que é Pessoa Física, Jurídica, gestão, empreendedorismo… Foram todos temas que foram trazidos para a gente contemplar também quem está se formando e que muitas vezes não tem isso aí na grade.
Qual o balanço da sua gestão frente à AMP?
Antes, quando não tinham as faculdades, as pessoas se reuniam na sede da AMP para conversar. Quando a gente assumiu, assumimos em pandemia. Uma coisa jamais vista. Então, a gente teve que adequar a associação. Criamos vários braços, trocamos o auditório por um estúdio, usamos a comunicação muito mais online, estreitamos a relação com o Município no comitê da Covid-19… Foram várias frentes que foram se abrindo. Chega a ser uma coisa bizarra, mas no meio de um problema de saúde pública gigante, se passa a trabalhar de uma forma diferente.
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