Ciência
Professora da UFPel é reconhecida com prêmio internacional de Química
Entre os inúmeros trabalhos desenvolvidos está o fomento científico a novos pesquisadores e os impactos da presença de halogênios nos produtos de consumo humano
Ítalo Santos - Especial DP - Caminho de Márcia tem trabalho e pesquisa incentivados por políticas públicas
A única mulher latina-americana a ser premiada pela União Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac) é servidora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Gaúcha de Canguçu, Márcia Mesko integra uma lista de 12 cientistas que receberão a distinção voltada para reconhecer e promover o trabalho de mulheres com base na excelência em pesquisa, realizações distintas em ensino ou liderança na área das ciências químicas. A entrega do prêmio será em agosto, na Holanda.
Docente na graduação e pós-graduação em diversos cursos da UFPel que têm em seus componentes curriculares áreas da química, assim como coordenadora de grupos de iniciação científica, a pesquisadora diz que a premiação simboliza a capacidade das mulheres de alcançar qualquer objetivo que almejem. Além da importância do ensino público de qualidade para o desenvolvimento da ciência. "É uma grande distinção de mostrar primeiro que a gente pode estar onde a gente quiser e que não é o gênero que vai dizer as tuas habilidades."
Márcia ressalta o o tamanho dos desafios que teve que superer para alcançar a posição atual. Cita entre eles a recente implementação do curso de Química na UFPel e a posição da universidade em comparação com instituições em grandes cidades, como um centro de pesquisa menos desenvolvido. Também lembra como um ponto importante a escassez de lideranças femininas na área.
Com uma carreira acadêmica possível através de investimento público por meio de bolsas de estudo de graduação, pós-graduação e de iniciação científica, a pesquisadora destaca o papel disso no resultado. "Foram CNPQ, Capes, Fapergs. Olha quanto investimento a sociedade teve em mim. Hoje eu sou servidora pública, trabalho formando novos profissionais, novos cientistas. Tento retribuir da melhor forma possível o que eu recebi e acho que o prêmio demonstra isso", reflete.
Visibilidade que abre caminhos
Márcia conta que por, conta da desigualdade de gênero no mundo acadêmico, sempre soube que seria necessário se dedicar e fazer mais do que a maioria para conseguir se estabelecer. "Cheguei ainda num espaço na pós-graduação que tinha muito mais homens que mulheres. Hoje isso está mudando. Sempre fui tentando fazer a mais e isso é final de semana, é madrugada", lembra.
A pesquisadora sente que ser nomeada para a distinção é uma grande responsabilidade por estar representando outras cientistas de mesmo gabarito que poderiam estar no seu lugar. Ela ressalta ainda que a o prêmio da Iupac também poderá ser um meio de aproximar mais o contato da sociedade com o trabalho que está sendo realizado por mulheres na Química e que a visibilidade é crucial, pois possibilita a abertura de diversas oportunidades.
Fomento e formação na Química
Grande parte do trabalho desenvolvido por Márcia é relativo à formação de novos alunos e pesquisadores em cursos como Farmácia, Química Forense, Nutrição, entre outros. Mas além desta importante atuação acadêmica, ela também desenvolve pesquisas em sua especialidade, a Química Analítica.
Atualmente, em um dos grupos que coordena, a cientista desenvolve métodos de detecção da presença de halogênios (como flúor, cloro, bromo, iodo) em alimentos e outros produtos e o quanto isso pode impactar no organismo humano. Trabalho que está sendo possível realizar graças a um dos seus projetos contemplado com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs). O que viabilizou a aquisição do cromatógrafo de íons para o laboratório da UFPel, instrumento essencial para as análises.
Inspiração
Orientanda de doutorado de Márcia, Fernanda Balbinot diz que trabalhar com a pesquisadora é uma inspiração diária. Para a aluna, a atuação das mulheres na academia não é reconhecida ou incentivada, tornando uma luta constante por parte das cientistas a busca por espaço e visibilidade. "Ver a minha orientadora, que é a pessoa que está aqui todos os dias para nos ajudar a crescer profissionalmente, ter esse reconhecimento, com certeza é uma inspiração é um sinal de novos tempos de caminhos abertos para a gente", comenta.
Em breve, Fernanda irá para a Áustria desenvolver parte de sua pesquisa de análise de halogênios em frutos do mar. Trabalho esse iniciado na UFPel.
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