Programa
Projeto desenvolve educação humanizada para crianças internadas no HE
Atividades realizadas diariamente para crianças de zero a 11 anos contribuem para que o período de internação seja menos doloroso
Foto: Carlos Queiroz - DP - O pequeno Davi, de quatro anos, fica animado ao saber que irá à Brinquedoteca
Por Vitória de Góes
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Para quem é adulto, ficar em um leito de hospital é difícil, há fatores que vão para além da enfermidade que deixam o processo mais cansativo. E para crianças, por sua vez, a questão é mais delicada. Um longo tratamento impede a frequência à escola e pode se tornar um período estressante. Pensando nisso, surgiu o Projeto “Pedagogia nas Classes Hospitalares”, desenvolvido no Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com o Hospital Escola da UFPel.
O programa, iniciado em outubro de 2022 na Unidade da Criança e do Adolescente (UCA), possibilita que crianças e adolescentes desenvolvam atividades escolares durante o período de internação. Essas são realizadas em um espaço chamado “Brinquedoteca”, que conta com uma estrutura lúdica, com brinquedos, livros e materiais de estímulo da criatividade.
Todo trabalho é realizado supervisionado pela pedagoga da UCA Adriana Coutinho e, nesse meio, tempo mais de cem crianças já foram atendidas. Ela explica que dependendo do período que o paciente fica no hospital, também entram em contato com a escola para que sejam encaminhados os conteúdos e trabalhos que estão sendo aplicados em sala de aula. “A ideia é não deixar a criança desassistida de um direito que ela tem”, expõe a pedagoga.
Adriana também conta do retorno que a equipe vem recebendo desde que os trabalhos iniciaram. Segundo ela, pais e responsáveis pelos pacientes ficam surpresos e se sentem mais acolhidos. “Para cada criança a gente desenvolve uma abordagem. Algumas entram aqui já querendo pintar, escrever, outras não têm vontade de assuntos que envolvem escola, então vamos introduzindo aos poucos”.
Além disso, o espaço contribui para que o período dentro do hospital seja encarado com mais tranquilidade pela criança e pelos familiares. “A classe hospitalar trás benefícios, principalmente psicológicos, que refletem na situação clínica. A criança coloca pra fora o estresse através da brincadeira, entende o que está acontecendo com ela em ações lúdicas”, explica a chefe da UCA, Sueine Valadão. De acordo com ela, isso também reflete no comportamento do paciente, que torna-se mais colaborativo para receber procedimentos médicos.
Na prática
Davi, de quatro anos, está internado há pouco mais de duas semanas devido a uma pneumonia bacteriana. Ele havia iniciado a ir às aulas em uma creche quando ficou doente. O pai, Johnnye Silva Tavares, espera que no início da próxima semana o filho possa ganhar alta, e destaca que o atendimento recebido na Unidade da Criança e do Adolescente. “O atendimento foi o melhor possível. É só dizer para irmos para a Brinquedoteca que ele (Davi) já vem correndo”.
Como pai, ele enxerga que espaços como esse ajudam a passar o tempo de internação de forma mais rápida. “Uma criança só no quarto fica inquieta e assim não, ela sai pra outro lugar, vai brincar”.
Processo humanizado
O orientador do projeto, professor Lui Nornberg, do Departamento de Fundamentos da Educação na Faculdade de Educação da UFPel, conta que o projeto foi formalizado em março deste ano, mas que a idealização surgiu bem antes, em 2018. Na época, Nornberg propôs um projeto de ensino chamado “Pedagogia, cenários e carreiras”, com objetivo de mostrar aos cursos outras possibilidades de exercício da profissão fora dos ambientes escolares. A partir daí foi montado um grupo de estudos voltado à classe hospitalar.
Após anos de estudo sobre as práticas pedagógicas dentro de hospitais, foi entrado em contato com o HE para sugerir um projeto de atendimento direto aos pacientes, que iniciou em experiência em novembro de 2022. Hoje, o trabalho realizado não tem apenas foco educacional.
“A gente faz um contato com a escola da criança para ver o que está sendo passado, mas trabalhamos com flexibilização, não apenas com continuidade educacional, porque muitas vezes a criança está fragilizada, em um ambiente que pra ela é hostil, então não dá para simplesmente reproduzir o que ela faz dentro da escola, precisa ser produzido algo que humanize esse processo”, explica Lui.
Atualmente os encontros entre voluntários e pacientes ocorrem nas quartas e quintas-feiras, das 9h às 11h30min. Nos demais dias da semana, o atendimento é realizado pela pedagoga Adriana Coutinho.
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