Assistência social

Quase um século de contribuição

Círculo Operário Pelotense (COP) completa 85 anos ainda à espera de um maior reconhecimento da sociedade

Jerônimo Gonzalez -

Círculo Operário. O nome, quase todo pelotense conhece. As atividades, por outro lado, não são tão difundidas. Há 85 anos, completados na última semana, a associação busca promover o desenvolvimento humano na cidade através de ações que vão desde o esporte, passando pela cultura, até chegar na educação e à preservação de direitos.

Tem início antes mesmo da formação a história da instituição. Em 1930, o padre jesuíta Leopoldo Brentano, já envolvido na relação entre Igreja e trabalhadores, criou o que seria o embrião de uma escola para adultos dentro da Congregação dos Moços, por ele dirigida. Após experiência, o sacerdote realizou diversas sessões de estudos a fim de criar uma entidade operária de inspiração católica que tivesse como objetivo o fortalecimento de uma organização forte para promover a formação de líderes segundo a doutrina da Igreja.

Dentro da pesquisa, padre Leopoldo Brentano conheceu encíclicas sociais como a Rerum novarum, carta aberta a todos os bispos sobre as condições da classe trabalhadora, escrita pelo papa Leão XII, com questões levantadas durante a Revolução Industrial, e a Quadragésimo anno, elaborada pelo papa Pio XI após a Grande Depressão de 1929. Também contribuíram para a criação do Círculo Operário Pelotense, bem como do movimento circulista como um todo, as ideias de Alceu Amoroso Lima, da organização da Legião Cearense do Trabalho, da Cooperativa dos Ferroviários de Santa Maria, além do corporativismo.

Desde então, a instituição tem funcionado em Pelotas de forma filantrópica e como uma associação, sempre com o objetivo central de contribuir para a formação humanística e de liderança dos trabalhadores e da sociedade como um todo. Em seu auge, até a década de 1990, o Círculo Operário chegou a ter 500 sedes em todo o Brasil - hoje esse número se limita a 60, além das federações e da confederação nacional.

Socialização
Em Pelotas são atualmente dois espaços para a execução de atividades e serviços de interesse da pessoa humana, dentro do espírito solidário e mutualista. Na Cassiano com Almirante Barroso funciona a sede, propriamente dita, e o departamento médico, com atendimento de ginecologia até psicologia. Na Rafael Pinto Bandeira, no Areal, funciona um complexo formado pelo Centro Social Urbano e pela sede de associados, com quadras de bocha, salas para snooker e academia, entre outros, destacando-se principalmente o futebol de mesa, modalidade pela qual o COP é nacionalmente conhecido como uma referência e recebe constantemente campeonatos brasileiros e estaduais.

São atualmente mil associados ao COP. Conta o presidente da instituição na cidade, Celni Rodrigues - cujo nome está entre os destaques do snooker -, que, para essas pessoas, a instituição tem como importância manter acesa a chama da vida. “Muitas são pessoas solitárias que entraram aqui e, a partir de então, passaram a ter companhia, utilidade, lazer e, portanto, alegria”, comenta, usando-se como exemplo. Viúvo, ele viu no convívio com os amigos e na prática de esportes uma importante contribuição para seguir erguido.

CSUAREAL
É com o dinheiro do quadro social, além de parcerias com a prefeitura de Pelotas, que o Círculo Operário Pelotense consegue viabilizar aquele que é talvez seu trabalho mais importante: o Centro Social Urbano (CSU Areal). Existente desde 1981, o projeto atende crianças em situação de vulnerabilidade social, idosos e pessoas com deficiência pequena e moderada, através de um serviço principalmente de convivência e de formação de vínculo com sociedade e família.

Com os pequenos, autoinscritos ou indicados pelos Centro de Referência e Assistência Social (Cras) da cidade, são dois grupos, em turno inverso ao da escola: os menores entram pela manhã e saem ao meio-dia e os maiores entram ao meio-dia e saem no fim da tarde. Lá, recebem alimentação e realizam atividades educativas, de convivência, de coordenação motora e de lazer, como pinturas, colagens, além de trabalhos com reciclagem - na data da visita do Diário Popular ao local, eram confeccionados brinquedos com caixas de remédios e tampas de garrafas trazidas pelas próprias crianças.

Com as pessoas portadoras de deficiência - 24 ao total -, são promovidas atividades de socialização como jogos, música, filmes, colagens e artesanatos como portalápis, além de fisioterapia - em de parceria com a Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e com a prefeitura através do projeto Vida Ativa. Em alguns casos, destacam as instrutoras, os alunos conseguem tanto avanço dentro do COP que se permitem o ingresso no mercado de trabalho.

Segundo a assistente social do CSU Areal, Daniela Neumann Seixas, a importância do trabalho desenvolvido é o amparo social que recebem as pessoas assistidas por ele. “Apoiamos a existência deles e a defesa dos direitos da criança, do adolescente, do idoso, da pessoa com deficiência. Isso repercute lá fora.”

Futuro
Além do quadro social, o Círculo Operário se mantém firme, mesmo sendo uma instituição de 85 anos, por conta de aluguéis de vários prédios dos quais a associação é dona na cidade. Para o futuro, diz o presidente Celni Rodrigues, é previsto o acréscimo de mais 40 apartamentos.

Ele, que entrega o cargo nos próximos meses após cinco anos - voltará a usufruir das vantagens de ser associado, entretanto -, espera que o futuro reserve sequência no trabalho “bonito e importante para a sociedade” que o COP fez nessas oito décadas. “Desejo que a comunidade tenha mais interesse em conhecer nossas atividades”, comenta.

Uma grande frustração pessoal no mandato de Rodrigues, e o substantivo fica por conta do próprio presidente, é não ter reaberto o lendário Teatro do COP. Em situação semelhante ao público Sete de Abril, o local encontra-se interditado por problemas estruturais desde 2012 e aguarda aprovação em editais de apoio à cultura para que possa ser restaurado. A obra, de acordo com o mandatário, é hoje inviável por motivos financeiros.

Fundado em 1935 e reativado em 1986, o Teatro do COP foi durante décadas palco de diversos festivais teatrais, de artes plásticas e de Cinema na cidade em nível local e nacional. Além disso, também desempenhou importante papel na formação de artistas, através de atividades como oficinas, cursos e aulas de teatro, dança e música com preços populares.

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