Sem lar

Reintegração de posse é suspensa durante ação no Arco-Íris

Com parte das casas já desmanchadas e com os móveis dentro de caminhões, moradores comemoraram a decisão revertida na Justiça

Gabriel Huth -

Eles não tão aqui porque querem, tão porque precisam", comenta um morador ao ver três homens carregando uma parede inteira de madeira crua de pinus. Entre os vizinhos, os braços foram compartilhados no auxílio do transporte de móveis, telhas, janelas, enfim, tudo o que era possível retirar das construções irregulares. Em conversa com os posseiros, o tempo de habitação variava. Uns faziam dois anos, outros quatro. Antes de todas aquelas casas serem colocadas de pé, seu Waldomiro já plantava uma horta e criava alguns cavalos numa área de terra "abandonada", como definem os moradores do entorno.

Na manhã desta terça-feira (4), os moradores das ruas 20 e 21 do Arco-Íris, zona norte de Pelotas, acordaram com a presença do Pelotão de Operações Especiais (POE), oficiais de justiça, caminhões para mudança e uma escavadeira hidráulica, que destruiria as construções irregulares. Sobre a área, tramitam três processos na Justiça com a mesma intenção: reintegração de posse. A área é da Terra Sul Empreendimentos Imobiliários, empresa localizada em Sumaré, São Paulo, autora do pedido de reintegração. Dos três processos, dois lançaram liminar para que as famílias se retirassem na manhã desta terça-feira. A Justiça ainda determinou que a empresa ofertasse caminhões de mudança com quatro ajudantes mais uma máquina escavadeira para a derrubada das construções.

Os moradores comemoraram quando foi anunciado, no local, que uma das duas liminares havia sido suspensa pela juíza Fabiana Fiori Hallal, da 2º Vara Cível. Enquanto recebia a decisão por telefone, a oficial de Justiça Ana Lúcia Parada de Moraes foi cercada por moradores e os ânimos ficaram "quentes'. Na esquina já se formava a tropa por trás de escudos de proteção posicionados para avançar na direção dos moradores e dos oficiais de justiça. A partir de conversas entre o capitão da Brigada Militar e os moradores, as dúvidas foram esclarecidas e tudo ocorreu de forma tranquila. Para não causar transtornos entre os moradores e alegando "questões de segurança", a BM e os oficiais decidiram suspender todos os trabalhos até uma decisão final.

Com a decisão, a reintegração foi suspensa no momento em que os moradores eram desalojados de suas residências. O cancelamento dos despejos foi em função da advogada de defesa das famílias, Ruchele Pôrto, ter entrado com petição na busca por suspender a liminar. Presente no local durante a reintegração, a advogada da Terra Sul, Beatriz Simões Gross, disse que a empresa é dona da área desde 1983 e que pagou R$ 2,6 mil pela escavadeira, que permaneceu parada.

Dúvidas sobre o teto
Nas primeiras horas da manhã desta terça-feira, os moradores acordaram com a presença de mais de 50 policiais fortemente armados e portando escudos. Toda a ação foi monitorada de perto pelo POE. Uma escavadeira hidráulica estava posicionada para derrubar as construções de alvenaria que seriam deixadas para trás. A polícia e os oficiais acompanhavam a movimentação de móveis, de tábuas sendo retiradas, de moradores passando com telhas e os olhares de desconfiança dos moradores.

Seu Waldomiro Nunes de Almeida, 75, mora no local desde 1996. No início da conversa ele já avisa: "Eu não moro no terreno, mas eu planto verduras e morangas, e crio meus cavalos. Eu uso pra isso", disse. Durante a conversa, o aposentado começou a chorar lamentando a situação. Waldomiro utiliza uma área para plantar alface, repolho e moranga. Ele justifica o uso como sendo um complemento na renda da aposentadoria. Quando a reportagem chegou no local, ele e sua esposa, também uma senhora idosa, despregavam telhas de onde dormem os cavalos. "Isso aqui tudo era mato, não era usado pra nada", comenta. O aposentado possui um terreno e uma casa colada à propriedade em questão. "Eu tenho pena das pessoas que não tem onde morar", declarou, no final da conversa.

A costureira Andreia Ferreira está grávida de três meses. O marido Jonas Vinholes desmontava a cama quando a reportagem entrou na casa já sendo esvaziada e desmontada. Há dois anos morando no local, Andreia conta que deve passar um tempo na casa da mãe, no bairro Getúlio Vargas. A mãe de Jonas, dona Sueli Vinholes, 65, chorava sentada num sofá colocado próximo à rua. "A guria está grávida", lamentava. Andreia conta que há 20 dias, os oficiais de justiça estiveram no local avisando as famílias, que não sabiam ao certo quando seria o prazo final. O pedreiro Juliander Merseburguer, 28, passava a cada pouco carregando pedaços da sua casa. "To correndo pra tirar o que dá pra não perder tudo", disse. Ele morava no terreno com a esposa e dois filhos, um de nove e outro de três anos. "Aqui todo mundo é trabalhador", definiu com dois pedaços de madeira no ombro. Com a suspensão, os moradores agora tem mais tempo para tirar seus pertences. Muitos ainda mostravam acreditar na suspensão total do processo.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Aluguel favorável ao inquilino Anterior

Aluguel favorável ao inquilino

Sanep abre licitação para a coleta do lixo Próximo

Sanep abre licitação para a coleta do lixo

Deixe seu comentário