A cena já virou rotina e causa indignação entre moradores da Cohab Fragata: o relógio marca entre 9h e 10h e as torneiras secam. Não raro, o fornecimento só normaliza nas primeiras horas da tarde. A escassez de horários na circulação dos ônibus também desponta entre as queixas da comunidade. Ao rodar por diferentes pontos do Fragata, através do projeto Nosso Bairro, o DP ouviu demandas que vão da demora na manutenção de praças à falta de atendimento médico na Unidade Básica de Saúde (UBS) Guabiroba até as péssimas condições de ruas no Simões Lopes.

Quem conta é a cozinheira Laura Knapp 50, que depois de dez anos vivendo no Laranjal, mudou-se para a rua Paulo Zanotta da Cruz, na Cohab Fragata. "É bem chato. Eu quero lavar roupa e não tem como. Falta água seguido, de manhã, e sem aviso". Um transtorno para quem fica de olho na previsão do tempo e nas escalas de serviço no hospital, para ter disponibilidade às tarefas domésticas. E quando o assunto é o deslocamento de ônibus à área central de Pelotas seguem as reclamações: "É uma pouca vergonha. Com as alterações nas linhas, com a pandemia, virou uma esculhambação", lamenta.

Várias linhas do sistema de transporte foram unificadas durante a pandemia (Foto: Carlos Queiroz)

E garante que, nas primeiras horas da manhã, o intervalo sem transporte coletivo chegaria a atingir duas horas. "Tem sido uma luta". A vasta lista de opções, nas tabelas do Consórcio, na prática não se confirmaria.

Confira os contrapontos 

- O que diz o Sanep: A autarquia afirma não existir registro de problema geral na Cohab Fragata, nas últimas semanas. Os sistemas de bombeamento nas Estações de Tratamento de Água (ETAs) Santa Bárbara e Moreira têm funcionado a pleno, sem interrupções, com todas as pressões normalizadas. "Se há alguma intercorrência, trata-se de algo pontual e, por isso, é importante que seja fornecido o endereço completo ao Sanep, para que o Departamento de Águas possa verificar", explicou, via assessoria de imprensa.

- A posição do Consórcio do Transporte Coletivo: O secretário-executivo Enoc Guimarães admite não haver perspectiva de o serviço retomar o esquema pré-pandemia. "Temos que viver o novo normal. Em maio deste ano, transportamos 61% de maio de 2019", exemplifica. O advogado, entretanto, argumenta que só nas primeiras duas horas da manhã existiriam nove horários à disposição dos usuários. "Dá menos de 15 minutos, em média. De um lado ou de outro, conforme a linha, direita ou esquerda".

Das parcerias com o Poder Público às ações do próprio bolso

Do lado de dentro da Associação Inova Guabiroba, atividades do programa municipal Vida Ativa viram opções aos moradores, seja taekwondo ou ginástica. E a população tem prestigiado: "A gente pode se exercitar, se movimentar e ainda fazer amizades", festeja Santa Lídia Chaves dos Santos, 78. Enquanto isso, do lado de fora do prédio, a praça em frente conta com improvisos realizados pelo presidente da Associação, Celso Gonzaga, 73, na tentativa de preservar o local, seja com solda em aparelhos da academia ao ar livre, seja com a instalação de mesas com reaproveitamento de materiais.

"A gente tem que estar implorando pelas melhorias. Com o tempo as madeiras apodrecem, as coisas se estragam e a gente fica sem", lamenta, ao referir-se à tabela de basquete para gurizada. E, enquanto o sonho de uma quadra poliesportiva não se concretiza, o líder comunitário reivindica a colocação de tela em parte do espaço, para que os jogos pudessem ocorrer sem a bola atingir carros e casas do entorno.

Jogos da gurizada ficam prejudicados pela falta de tabela; ao fundo restou só o poste (Foto: Jô Folha)

A iluminação pública também é alvo de atenções. Vez por outra, Gonzaga sai a percorrer as ruas com um caderninho em mãos para tomar nota das lâmpadas queimadas. E quando o assunto é o atendimento na UBS, ele também tem resposta imediata: "Temos três equipes de Estratégia [Saúde da Família] no postinho. O terceiro médico não voltou mais. E agora, dos dois que ficaram, às vezes temos só um. Às vezes não temos nenhum", preocupa-se.

Buracos por todos os lados

Asfalto desaparece e se transforma em inúmeros buracos ao longo das ruas do Simões (Foto: Jô Folha)

O roteiro do DP aponta ao Simões Lopes, no trecho que cruza a ponte sobre o canal Santa Bárbara. Inúmeras ruas guardam apenas pedaços de asfalto do que um dia foi pavimentação. Resultado: pedaços de terra, buracos e cocurutos por todos os lados. Quem vive por ali, não raro, recorre a saídas caseiras para melhorar o trânsito: "Quebrei uns tijolos e coloquei aqui na frente de casa, onde tinha um buraco grande", conta o morador da rua Onofre Pires, Neci Freitas Dias.

Confira alguns números 

- População do Fragata: Dados do último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, indicavam: eram 73.632 habitantes. O bairro mais populoso de Pelotas.

- Área: Em termos de território, é a quarta maior área de Pelotas, com 32.261.903,67 metros quadrados.

Para participar do projeto! 

O DP quer contar com a sua participação, através do Nosso Bairro. Para ser nosso parceiro, envie sugestões para os e-mails [email protected] e [email protected]. Você pode também entrar em contato pelo (53) 3284-7023 ou pelo WhatsApp (53) 99147-4781. Se preferir, pode dirigir-se à sede do Jornal, na rua 15 de Novembro, 718.