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Três bairros de Pelotas irão integrar um longo estudo financiado por agência de fomento do Reino Unido. A pesquisa Lugares com pessoas idosas: Rumo a comunidades amigáveis ao envelhecimento das pessoas, proposta pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (Faurb) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), irá analisar localidades de seis municípios; três brasileiros e três britânicos. O trabalho, programado para se estender até maio de 2019, está alicerçado em uma premissa básica: mudar a forma construída não é o suficiente para criar ambientes mais inclusivos para o envelhecimento. É preciso ir além.
“Lugares são mais do que espaços físicos”, enfatiza a coordenadora do estudo no Brasil, a professora Adriana Portella. Não basta, portanto, apenas atender medidas previamente estabelecidas em leis e manuais. Os projetos arquitetônicos também devem atentar-se aos laços sociais, psicológicos e emocionais que se estabelecem com os locais, ao longo dos anos. É o chamado sentido de lugar. E é o que os pesquisadores de dez universidades - dos dois países - querem buscar em contato direto com a comunidade - veja como vai funcionar.
Tudo com um objetivo: contribuir para os espaços serem projetados com o cuidado de promover uma vida saudável aos idosos que, não raro, passam a ter dificuldades de locomoção com o avanço da idade e também sofrem com a diminuição da capacidade cognitiva e com a perda de apoio social. “Ambientes urbanos, na sua concepção atual, muitas vezes desencorajam o envelhecimento ativo e colocam os idosos em risco de isolamento e solidão”, destaca a doutora em Design Urbano.
Daí, então, a importância do estudo, que se junta ao esforço internacional pela criação de áreas, recantos e municípios amigáveis à Terceira Idade, a partir da percepção dos próprios idosos. É uma iniciativa que, em breve, estará nas ruas, com métodos de interação com a população: diários registrados em vídeo e mapeamento participativo, além de abordagens mais tradicionais, como questionário e entrevista.
O jeito, às vezes, é ficar em casa
A aposentada Marina Gomes Souza, 68, admite: “Assim como tá, tenho medo de andar. Tenho muito medo de cair”. Para se proteger de calçadas e ruas esburacadas, tem preferido permanecer em casa. Só sai quando precisa pagar contas ou ir ao médico e à cabeleireira. E, de preferência, se o bolso permite pagar um táxi.
Do contrário, acompanha apenas o movimento da vizinhança, ali, da frente da residência na rua Paulo Guilayn, na zona da Balsa; uma das áreas que deverá integrar o estudo. Com artrose nos dois joelhos, precisa da ajuda de bengala ou andador. Com várias armadilhas no caminho, há alguns anos deixou de participar ativamente da vida da cidade. Sentiu-se forçada à decisão. Não chegou a ser uma escolha.
Na lembrança
Os passeios de bicicleta estão na memória. A natação como sinônimo de lazer também. O aposentado Orcy Corrêa, 88, hoje se limita a ficar em casa, embora a faceirice volte ao rosto quando se propõe um passeio. “Ele tem desgaste na cartilagem do joelho e tem tido muita dificuldade em subir as calçadas, altas, e sem rampas”, lamenta a filha Rosa Maria Corrêa Silveira, 60.
O jeito, então, tem sido o mesmo: transformar a frente de casa, na rua Tiradentes, em sinônimo de lazer, ponto de encontro e convívio social. Praias e praças, por exemplo, há tempos já não entram no roteiro.
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