Agricultura
Safra recorde de arroz
Estimativa de produção no Estado ultrapassa as 8 milhões de toneladas.
Paulo Rossi -
A safra de arroz de 2016/2017 deve se tornar um marco histórico na produção do grão no Rio Grande do Sul e na Zona Sul do Estado. Isso porque a colheita estimada é a maior já registrada. Segundo dados do Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA), lavouras da região devem render uma média de 8.500 quilos de arroz por hectare. Estimativa de produção no Estado ultrapassa as 8 milhões de toneladas no setor, que gera 5 mil empregos diretos e cerca de 10 mil indiretos. Municípios que fazem parte da Associação de Municípios da Zona Sul (Azonasul) produziram 21,3% do total da safra 2015/2016, além de contar com maior média de produtividade. Se atingir o esperado, a região deve produzir 1.534.437 toneladas. A maior safra já registrada foi 2014/2015, naquele ano foram 8.479 quilos por hectare.
As duas primeiras cidades do Rio Grande do Sul no ranking de produtividade são da região. Chuí lidera com média de 8.552 quilos por hectare, seguido de Rio Grande com média de 8.479. Com 178.104 hectares plantados, a safra 2016/2017 da Zona Sul deve atingir a maior média da história. Hoje, no Estado, estão semeados 1.091.401 de hectares de arroz - 76.162 hectares a mais que o ano anterior.
Semeado entre os meses de setembro até no máximo final de outubro, a Abertura Oficial da Colheita ocorre hoje, na Estação Experimental do Arroz do IRGA em Cachoeirinha, região metropolitana de Porto Alegre e capital do arroz. O evento deve reunir cerca de 8 mil produtores do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, além da Argentina e Uruguai. Esta será a 27ª edição especializada do setor orizícola, que reúne produtores, pesquisadores, entidades e empresas do agronegócio do arroz. Tradicional evento mostra, diretamente nos campos com experimentos, os avanços científicos e tecnológicos na cultura do arroz, além de proporcionar discussões sobre o setor.
A equipe de reportagem esteve na Granja da Várzea, localizada às margens da Lagoa do Patos, em Pelotas, para conhecer o sistema desenvolvido no local. Amanhã, a partir das 8h, a propriedade abre o Roteiro Técnico do Irga, que se estenderá por outros municípios da região (confira na agenda), possibilitando também a produtores conhecerem o trabalho desenvolvido no local.
O economista Fernando Rechsteiner recebe a reportagem próximo a uma estrutura montada para os trabalhadores da granja e perto dos silos de armazenagem dos grãos. Vice-presidente do Sindicato Rural de Pelotas e conselheiro do IRGA, ele faz parte da quinta geração da família que produz o cereal. A propriedade utiliza o modo plantio direto. A semeadura acontece dessa forma em função da alternância de cultura - o arroz é plantado sobre a soja ressecada com uso de herbicidas. Se, numa colheita planta arroz, na outra alterna com a soja. "A rotação de arroz com soja tem possibilitado maior sustentabilidade agronômica e econômica", explica o produtor. A sustentabilidade agronômica diz respeito ao uso de agrotóxicos que, com o sistema rotativo, diminui a incidência nas lavouras de arroz. Econômica, explica Fernando, porque os gastos em químicos geram custos elevados aos produtores e a monocultura representa risco, uma vez que a rentabilidade não depende apenas de uma cultura. Rechsteiner salienta a importância de ter secagem e armazenamento próprio dentro da propriedade. Com isso é possível comercializar a soja com um preço remunerador no primeiro semestre - período de entre-safra nos Estados Unidos - e o produtor aguarda o segundo semestre com menor oferta no mercado do arroz.
A estância produz 100% de arroz irrigado. Para a atividade ser regularizada, é emitida uma outorga do Departamento de Recursos Hídricos (DRH) da Secretaria do Meio Ambiente e é licenciada a irrigação pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). "O arroz é plantado no seco e, quando atinge de 3 a 4 folhas, é irrigado até a colheita", mostra Fernando enquanto percorremos as plantações. A água utilizada é proveniente da Lagoa dos Patos, um dos limites da propriedade próxima da Colônia de Pescadores Z-3.
Atualmente, na Estância Rechsteiner estão plantados 1.100 hectares de arroz e 1.200 hectares de soja. "Temos a previsão de colher em média 10 mil quilos por hectare", projeta o economista. Algumas áreas chegam a produzir 12 mil quilos por hectare. Para produzir o grão, ainda conforme Rechsteiner, a propriedade deve priorizar o "tripé de sustentação técnica de uma lavoura sustentável". Isso inclui o Projeto 10 do IRGA, que são dez práticas para melhorar o manejo e aumentar a produtividade, a rotatividade com a soja e o Sistema Clearfield, que através de mutação genética do arroz faz com que ele resista a herbicidas responsáveis por combater ervas daninhas.
De acordo com o engenheiro agrônomo e coordenador do IRGA na Zona Sul, André Barros Matos, o RS hoje representa 70% da produção de arroz no Brasil. "Neste ano devemos chegar próximo de 1,1 milhão hectares plantados", indica em números. Conforme dados do IRGA, na safra 2016/2017 foi possível semear na Zona Sul 101,4% do previsto. Hoje, 90% da produção é consumida dentro do país - 10% é exportado. Segundo Matos, há dez anos utilizavam cerca de 15% a 20% com cultivares do Sistema Clearfield. Hoje o quadro inverteu, os produtores utilizam 90% de cultivares Clearfield na região. "Este fato ocorreu pela infestação das áreas de cultivo por Arroz Vermelho/Preto e também por menor custo no uso de defensivos", explica o engenheiro.
O IRGA Regional Sul compreende as cidades de Arroio Grande, Herval, Pedras Altas, Jaguarão, Capão do Leão, Cerrito, Pedro Osório, Pelotas, Turuçu, Rio Grande, Chuí e Santa Vitória do Palmar. Municípios como Aceguá, Pinheiro Machado, Piratini, Santana da Boa Vista, Canguçu, São Lourenço do Sul e Candiota pertencem a outras coordenadorias.
DADOS
RS representa 70% do arroz produzido no Brasil
Zona Sul
- Unidades de produção de arroz: 456 (com rotação de soja: 213)
- Mais de 900 produtores envolvidos
- Empregos diretos e indiretos: 5.000 diretos e cerca de 10.000 indiretos
- Áreas de arroz: 70% arrendatários e 30% próprias
Dados do IRGA Regional Zona Sul
Ano | Área hectares | Produção (toneladas) | Produtividade (kg/ha)
2011/2012 | 169.628 | 1.226.916 | 7.233
2012/2013 | 172.302 | 1.349.298 | 7.802
2013/2014 | 179.848 | 1.365.077 | 7.596
2014/2015 | 183.205 | 1.543.395 | 8.479
2015/2016 | 178.908 | 1.404.248 | 7.849
2016/2017 | 181.029 | 1.538.747 | 8.500 (estimativa do IRGA)
Safra 2015/2016 (dados do IRGA)
RS
Área semeada: 1.084.884 hectares
Área colhida: 1.053.560 hectares
Área perdida: 31.324 hectares
Quilos por hectare: 6.928
Toneladas: 7.299.462
Produção na Zona Sul
Área semeada: 204.307 hectares
Área colhida: 202.309 hectares
Área perdida: 1.998 hectares
Quilos por hectare: 7.704
Toneladas: 1.558.780
Aceguá
Área colhida: 10.262 hectares
Quilos por hectare: 7.130
Toneladas: 73.168
Amaral Ferrador
Área colhida: 143 hectares
Quilos por hectare: 5.897
Toneladas: 843
Arroio Grande
Área colhida: 41.936 hectares
Quilos por hectare: 7.430
Toneladas: 311.584
Candiota
Área colhida: 655 hectares
Quilos por hectare: 5.199
Toneladas: 3.405
Canguçu
Área colhida: 760 hectares
Quilos por hectare: 7.315
Toneladas: 5.559
Capão do Leão
Área colhida: 6.464 hectares
Quilos por hectare: 8.164
Toneladas: 52.772
Cerrito
Área colhida: 225 hectares
Quilos por hectare: 4.847
Toneladas: 1.091
Chuí
Área colhida: 4.122 hectares
Quilos por hectare: 8.552
Toneladas: 35.251
Herval
Área colhida: 720 hectares
Quilos por hectare: 7.317
Toneladas: 5.268
Jaguarão
Área colhida: 22.215 hectares
Quilos por hectare: 7.600
Toneladas: 168.834
Pedras Altas
Área colhida: 1.790 hectares
Quilos por hectare: 5.095
Toneladas: 9.120
Pedro Osório
Área colhida: 3.549 hectares
Quilos por hectare: 7.791
Toneladas: 27.650
Pelotas
Área colhida: 8.244 hectares
Quilos por hectare: 7.682
Toneladas: 63.330
Pinheiro Machado
Área colhida: 66 hectares
Quilos por hectare: 5.000
Toneladas: 330
Piratini
Área colhida: 599 hectares
Quilos por hectare: 8.080
Toneladas: 4.840
Rio Grande
Área colhida: 19.277 hectares
Quilos por hectare: 8.479
Toneladas: 163.450
Santana da Boa Vista
Área colhida: 322 hectares
Quilos por hectare: 6.839
Toneladas: 2.202
Santa Vitória do Palmar
Área colhida: 68.848 hectares
Quilos por hectare: 8.044
Toneladas: 553.813
São José do Norte
Área colhida: 1.560 hectares
Quilos por hectare: 6.230
Toneladas: 9.719
São Lourenço do Sul
Área colhida: 9.688 hectares
Quilos por hectare: 6.631
Toneladas: 64.241
Turuçu
Área colhida: 1.519 hectares
Quilos por hectare: 7.912
Toneladas: 12.018
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário