Problema
Seis quilômetros lamacentos
Cenário não parece o mesmo de uma ponta a outra do balneário - enquanto perto dos Molhes da Barra a lama chega a formar bancos, ao lado do Navio Altair ela não aparece
Paulo Rossi -
A situação não é nova. Camadas de lama invadem a praia do Cassino, independentemente de condições climáticas, desde 1901, conforme pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande (Furg). O cenário não parece o mesmo de uma ponta a outra do balneário - enquanto perto dos Molhes da Barra a lama chega a formar bancos, ao lado do Navio Altair ela não aparece. No trecho, há pelo menos seis quilômetros cobertos de lama.
O lodo é carregado pela água e toma a areia do balneário. Dezenas de veículos já atolaram em função disso. Diariamente, na parte da manhã, o empresário Eduardo Barbosa pratica atividades físicas na beira da praia. Ele encara o vento forte, característico do Cassino, porém, nesta época, frio, e corre na areia. Morador do balneário, Barbosa reclama das condições atuais. "Destruíram a praia. Não dá pra entrar na água, esse lodo vai até o joelho", relata, ao observar a tímida formação de ondas, de coloração marrom. Em pontos em que a concentração da lama é maior, ela impede a formação de ondas altas, tão procuradas pelos surfistas.
O pesquisador do Núcleo de Oceanografia Geológica da Furg, Lauro Calliari, salienta aos atletas que redobrem os cuidados ao tentarem surfar ou praticar outros esportes no Cassino, diante da realidade lamacenta da praia. "Existe o risco de serem imobilizados ou mesmo cobertos pelos depósitos de lama fluida", defende, em pesquisa na Furg. Segundo ele, qualquer pessoa que entrar na zona de rebentação pode ficar aprisionada em um banco de lama. Calliari assegura que a lama não é tóxica, apesar de ainda não ser confirmada a origem daquelas camadas.
Em defesa da praia
Em abril de 2013, quando a lama atingiu uma faixa de 14 quilômetros de praia, um grupo de pessoas passou a se reunir a fim de discutir este fenômeno. Em comum, o amor à praia e a prática de esportes náuticos. A partir de então, o grupo formado por mais de 2,3 mil pessoas - o SOS Cassino - passou a questionar órgãos públicos e buscar embasamento técnico a respeito da cobertura de lama sobre a praia. "Por não termos um estudo conclusivo não podemos afirmar, mas acreditamos que o sítio de descarte dos sedimentos não seja estável", afirma.
Há duas correntes contrárias em relação ao problema. Uma delas culpabiliza a dragagem do canal de acesso ao Porto de Rio Grande e os sedimentos gerados como possíveis origens do lodo encontrado ao longo da praia. A outra sugere a interferência da própria natureza na questão, por resíduos oriundos da Lagoa dos Patos, cenário que estaria se agravando devido à influência humana. No entanto, ainda não existe um estudo conclusivo sobre as causas do aparecimento de lama na praia, o que dificulta a ação de protetores ambientais.
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