O campinho não dá para dizer que é o dos melhores. A iluminação, nem se fala. Mas nada tira o entusiasmo de uma gurizada que está se preparando para o tradicional campeonato Taça das Favelas Rio Grande do Sul, que pela primeira vez realiza a etapa regional em Pelotas. A competição ocorre desde 2012 e é realizada pela Central Única das Favelas (Cufa), sendo uma oportunidade para jovens talentos, uma injeção de autoestima nos adolescentes e a valorização dos moradores da periferia. Pela relevância do projeto social, há aporte financeiro do governo do Estado com o apoio do RS Seguro e das secretarias de Segurança Pública (SSP) e Esporte e Lazer (SEL). As disputas deste ano vão ser no estádio Bento Freitas. E quem sabe, neste domingo (6), o tradicional estádio xavante não vire o caldeirão da solidariedade para receber milhares de torcedores de um só time: o da visibilidade. A entrada é gratuita, mas quem quiser doar um quilo de alimento não-perecível, será muito bem-vindo.

"A doação é voluntária, pois paralelamente queremos fazer uma ação social, mas sabemos que muitas pessoas que irão assistir são das comunidades, somando três membros da família não dá para cobrar três quilos de alimentos, por mais que as comunidades sejam solidárias", comentou o coordenador da Cufa Pelotas/Extremo Sul, Sandro Mesquita. A intenção é reunir o maior público possível, pois para eles, a integração entre comunidades, projetos, times, jogadores e familiares é um momento importante para esses atletas. "E esse é um dos objetivos do programa". Mesquita lembra ainda que no meio dos torcedores terão os olheiros, incluindo do Grêmio, que confirmaram presença. "A ideia é proporcionar uma vitrine para os atletas que estão com a idade para profissionalizar, e todos ficam com a estima em alta tornando esse momento importante e feliz".

O atacante do Sport Vida, time do projeto social que tem no Navegantes 2, Yan Mendes Pereira Campos, 16, ficou um pouco nervoso com a entrevista, mas as respostas são como de um jogador de futebol profissional. A expectativa pela Taça das Favelas é muita, mas nada que tire a concentração. "Eu vou jogar o meu futebol e entrar no campo focado", garantiu. O jovem já passou pelo Farroupilha e Progresso, sendo que a sua pretensão de ingressar em um time profissional é bem clara e objetiva. "Foi por isso que aproveitei a oportunidade do projeto social." Os colegas de equipe são o atacante Diogo Gabriel de Cunha da Rocha, 11, o lateral esquerdo Jeverson Luís Berneira Bittar, 15, e o zagueiro Gustavo Cabistany Lima, 17, que seguem na mesma linha de pensamento, tendo a esperança de serem vistos e reconhecidos pelos olheiros. "Percorrer esse caminho é muito difícil, então aproveitamos as oportunidades como a do campeonato. Uma hora vai".

Wladimir Leal Berneira coordena o projeto e, embora todas as dificuldades de manter a ação social, por falta de verbas, não esconde a emoção em falar nos objetivos: "Nossa ideia é tirar a gurizada das ruas." Quem já participa de vários campeonatos, movendo muitas pessoas para conseguir recursos para tal, é o projeto Jovem Atleta, do Getúlio Vargas. Para o coordenador Carlos Oliveira, a Taça das Favelas, por ser uma copa de futebol nacional e voltada às periferias, é fundamental para os projetos sociais e para os meninos. "Dá oportunidade para que eles tirem os pés do bairro e possam mostrar o talento e terem visibilidade."

Etapa
A programação, que se firmou como o maior campeonato de futebol entre favelas do mundo, é destinada a jovens moradores de periferias e reúne times masculinos, com meninos entre 14 e 17 anos, e femininos, com meninas entre 15 a 17 anos de idade. Do Município são dez equipes que representam as comunidades do Navegantes, Dunas, vila Castilhos, vila Hilda, Colônia Z-3, Getúlio Vargas, Três Vendas e Balneário dos Prazeres. Dessa etapa municipal saem os representantes regionais que vão decidir a final em Porto Alegre. O torneio irá receber ainda jogadores de outras 24 cidades, totalizando 541 equipes.

"É uma satisfação termos a Taça das Favelas esse ano, com uma peneira em Pelotas. É sempre uma responsabilidade muito grande o desenvolvimento de um projeto social e ainda mais quando mexe com sonhos e possibilidades", admitiu Mesquita. Mas ao mesmo tempo, ele garante que é um desafio prazeroso, ainda mais quando no caminho encontra parceiros locais que fortalecem a ação. "A Taça das Favelas é uma grande vitrine nacional para futuros jogadores, mas também é espaço de integração das comunidades e pessoas através do esporte."

Carinho com a bola
Uma parceria firmada pela Prefeitura com o projeto Doe Gols do SporTV, que promove doações inclusivas por meio do esporte, possibilitará que todos os atletas das dez equipes pelotenses inscritas na competição ganhem um par de calçados. Com isso, além de chuteiras novinhas, os guris vão tratar bem melhor a bola em um campo de gente grande, clima que deve render boas jogadas e muitos gols.