Era digital
Terceira idade está conectada
Pesquisas revelam que idosos com mais de 60 anos podem ser tão assíduos na web como os mais jovens; adesão deles cresceu 1000% nos últimos oito anos
A empresária Maria Helena Guido Rediess, 64, não perde para nenhum jovem quando o assunto é internet. Está sempre conectada, atenta aos acontecimentos. Mesmo enquanto trabalha, se ouvir o som de notificação do celular, não resiste: para tudo e vai olhar do que se trata. Foi-se o tempo que as pessoas com mais de 60 anos não acompanhavam a evolução tecnológica. Estudo realizado pelo Instituto Locomotiva revela que 5,2 milhões de cidadãos nessa faixa etária utilizam ativamente a web no Brasil, o que significa crescimento de quase 1000% nos últimos oito anos.
Maria Helena fez vários cursos de informática ao longo de três anos, porque ninguém tinha paciência para ensiná-la a mergulhar no mundo da internet, nem os filhos. "Comecei do zero. Terminava um curso e fazia outro", conta. A neta, com sete anos na época, acompanhou a avó nas aulas. Hoje a empresária domina tudo e considera maravilhoso saber usar a web. Quando o marido resolveu aderir, pediu ajuda, ela negou e recomendou curso também. E ele fez.
A empresária adora redes sociais. Tem perfis no Facebook e no Instagram. Também usa (e como!) o WhatsApp. "Não descobriu o Snap ainda", observa a filha Renata. O celular está sempre do lado. Antes de dormir dá uma olhadinha e quando acorda, não falta um bom dia para os amigos da internet. Adora uma selfie e admite que falta paciência para as amigas que não estão nas redes sociais. "Porque aí não tenho assunto com elas", justifica.
Maria Helena fez vários cursos para se tornar uma internauta (Foto: Paulo Rossi - DP)
Para a doutora em Linguística Aplicada e professora dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, e Letras da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Mabel Teixeira, os idosos estão cada dia mais conectados e interessados nas ferramentas e possibilidades do universo on-line. Muitos por estímulo dos filhos, netos e amigos, que em sua opinião parece ser fundamental para que as pessoas da terceira idade tenham decidido experimentar o mundo digital. Salienta que as pesquisas apontam que o primeiro contato se dá normalmente através dos sites de redes sociais e por sugestão de algum parente.
Pela família
A adesão inicial é reflexo do desejo de comunicação com a rede social primária, familiares e amigos próximos. Entretanto, as facilidades próprias do ambiente on-line parecem conquistar e estimular a exploração de um universo maior. Atualmente, os sites de notícia, por exemplo, permitem que os idosos definam o tamanho da fonte dos textos ou optem por ouvir a matéria, facilitando o acesso e aumentando o interesse deles pela informação digital.
Outro tipo de aplicativo que parece ter conquistado os mais velhos são os jogos colaborativos. Enfatiza que o sucesso de aplicativos como o Candy Crush se dá, em grande parte, pela adesão dos idosos. Mais do que seguir a onda dos mais jovens, os idosos parecem ter encontrado na internet um universo de comodidades e novas possibilidades que garantem, acima de tudo, a própria independência.
"Engana-se quem pensa que os idosos estão na internet unicamente para contatar a família ou agendar a entrega de remédios", acentua. Segundo Mabel, a cada dia eles descobrem novas formas de aprender e ensinar através da rede. O grande número de sites, fanpages e aplicativos voltados para o público com mais de 60 anos atrai seu interesse e eles estão formando grupos e descobrindo juntos a possibilidade de usar a rede para se manterem atualizados, fazerem novos amigos e alcançarem maior qualidade de vida.
Aplicativo para o trabalho
Aos 66 anos e 38 deles como motorista de táxi, Rui Valente entrou na era do aplicativo. Usa para trabalhar, afinal hoje em dia a facilidade é para ambas as partes, taxista e cliente. "Aprendi rapidinho", conta, orgulhoso. Mas ele não pode utilizar celular em serviço. Regra do ponto do qual é motorista auxiliar. O aplicativo está em um tablet. Acessa a internet em casa, porém não é dos mais assíduos. Mas tem perfil no Facebook há cinco anos. Conta que a esposa acessa mais do que ele.
"O idoso da atualidade é um novo velho"
Conforme Mabel, as instituições de Ensino Superior têm tido um grande papel no engajamento dos idosos e é crescente no país o número de cursos/oficinas destinados a apresentar e estimular o letramento digital daqueles que nasceram muito antes dos computadores. Na UCPel, por exemplo, o Centro de Extensão em Atenção à Terceira Idade (Cetres) oferece periodicamente oficinas de informática.
O taxista Rui Valente, 66, faz uso do aplicativo (Foto: Paulo Rossi - DP)
De acordo com a coordenadora do Cetres, Sulamita Arruda, "o idoso da atualidade é um novo velho". Mais ativo, quer aprender as coisas desse tempo. Sabe que se não acessar as tecnologias ficará à margem e mesmo com as dificuldades enfrentadas por não ter mais a mesma agilidade de um jovem e nem a memória de antes, se dispõe a aprender.
O Cetres disponibiliza duas oficinas de informática ao ano, cada uma com 25 vagas. A ideia é propiciar a iniciação dessas pessoas à informática, a mexer no computador e acessar as redes sociais. Em resumo: perderem o medo. Alguns desistem no meio do caminho, sobretudo os de baixa escolaridade, mas a maioria vai até o fim. "Sempre digo: tenham paciência com vocês. Acreditem que vão aprender e se disponham a isso, dentro do seu tempo", salienta. Interessados em se inscrever para as oficinas do Cetres em 2017 podem entrar em contato pelo telefone (53) 3228-9273.
Pesquisa global
- Outra pesquisa, essa global, feita pela empresa GfK, revela que 42% da população mundial e 37% dos brasileiros consideram importante estarem constantemente acessíveis.
- No estudo realizado em 22 países, mais de 27 mil consumidores on-line declararam o quanto concordam com a afirmação "Para mim, é importante sempre estar acessível, onde quer que eu esteja".
- Nesse contexto, no Brasil, a percepção da importância de estar sempre acessível se intensifica entre os maiores de 60 anos, chegando a 48%, o mesmo percentual registrado entre os brasileiros entre 30 e 39 anos.
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