Informação
Um praia para curtir na areia
Último parecer técnico apontou o que vem sendo uma repetida notícia ruim aos pelotenses e visitantes
Paulo Rossi -
Por: Roberto Giovanaz
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Todos os pontos para banho do Laranjal, do Pontal da Barra à Colônia Z-3, estão impróprios. O último parecer técnico divulgado pela Secretaria de Qualidade Ambiental (SQA) apontou o que vem sendo uma repetida notícia ruim aos pelotenses e visitantes da praia durante o veraneio. Estão inclusos o balneário Santo Antônio, o Valverde, o Novo Valverde, o Balneário dos Prazeres, o Ecocamping e a Colônia de Pescadores Z-3. De acordo com informações do Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep), dois pontos já apresentam melhora no resultado dos exames, entretanto, o local só é sinalizado como próprio se, em cinco análises, quatro forem positivas - o próximo resultado deve ser conhecido nesta quinta-feira. A regra segue a resolução 274 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
Coordenador do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Maurizio Quadro orienta os frequentadores a não entrar na água. Conforme o especialista, é perigoso banhar-se na lagoa enquanto imprópria para banho pelo risco de doenças. “Crianças, idosos ou pessoas com baixa imunidade são suscetíveis a desenvolver doenças e infecções”, explica. As doenças não são graves e entre as mais comuns está a gastroenterite. Entre os sintomas estão enjoo, vômitos, dores de estômago, diarreia, dor de cabeça e febre. Também podem ocorrer infecções de olhos, ouvidos, nariz e garganta, de acordo com o coordenador. Entre as graves estariam a disenteria, a hepatite A e a cólera. Ainda segundo o professor, o que poderia ser cobrado do Poder Público em relação a isso seriam medidas de melhoramento no sistema de esgoto sanitário (o que está em andamento pelo Sanep), separando pluvial do cloacal, e para aprimorar o sistema de tratamento de esgoto, atualmente com percentual baixo - apenas 11% do esgoto da cidade são tratados.
Dois primos de oito anos estavam entre raros que se arriscavam dentro da água no último dia 6, aos olhos das mães Christine Etges, 49, e Aline Etges, 43. Quando a reportagem chegou ao local, Christine, que é professora, recolhia lixo jogado na areia para que os meninos brincassem. Entre os objetos encontrados, uma fralda usada, cacos de vidro e plástico enchiam uma sacola de supermercado. O material foi deixado a menos de dez metros de uma lixeira. Morando hoje em Florianópolis, a professora vem todo verão à cidade e visita o bairro onde se criou. Aline, empresária, semanalmente pratica stand up com um grupo de amigas. “A gente sempre entrou na água, desde criança, e nunca nos aconteceu nada”, disse Aline. Os filhos alternavam brincadeiras de mergulho na água e na areia com baldes e pazinhas de cavar. Christine também lamentou a falta de limpeza na orla.
Atualmente morando em Rio Grande, o casal Fabrício Freda, 33, e Juliane Lemons, 28, tomava mate à sombra dos plátanos do calçadão. Freda, educador físico, disse aproveitar apenas a parte de fora da água. Juliane, advogada, lamentou o estado da lagoa em função de atrapalhar o turismo. A disputa de público com lugares onde a balneabilidade é adequada fica desleal, na opinião dos dois. Todo ano o casal passa as férias no Laranjal.
Pouca alternativa
Para o secretário da SQA, Felipe Perez, não há o que ser feito. “Se salgasse a lagoa, melhorava uns 300%”, diz. No decorrer da beira d’água algumas placas que indicam as condições da água não estavam mais visíveis. Segundo Perez, a Secretaria já está providenciando novas para substituir as que foram danificadas - três placas foram roubadas. Para que os pontos se tornem próprios, são necessárias três análises consecutivas com resultado positivo, segundo resolução do Conama.
O coordenador do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária explica que a ocorrência de chuvas em áreas com esgoto piora a situação. “A drenagem escoa em direção da lagoa, levando consigo esgotos domésticos das fossas, valetas, entre outros”, esclarece o especialista.
Mais próxima da água, a também advogada Liara Mattei, 28, se bronzeava numa cadeira de praia virada de frente para a lagoa. Há mais de 20 anos veraneando no local, ela não lembrava da última vez em que o local esteve próprio para banhos. “Já que não dá pra entrar na água, ando de bicicleta e faço caminhadas”. A advogada também lamenta a falta de eventos esportivos e culturais até o momento no bairro.
Como funciona o teste
Os testes são realizados semanalmente e analisados pelo corpo técnico do Sanep.
Conforme a resolução 274/2000 do Conama, explica Maurizio, as condições são consideradas próprias pra banho quando houver, no máximo, mil coliformes termotolerantes ou 800 Escherichia coli por 100 mililitros em 80% das amostras coletadas nas últimas cinco semanas.
É considerado impróprio, para o Conama, quando em mais de 20% as amostras forem superiores a mil coliformes termotolerantes e 800 Escherichia coli por 100 mililitros.
Também podem ser consideradas impróprias se, na última amostragem, o valor obtido for superior a 2.500 coliformes termotolerantes ou 2.000 Escherichia coli por 100 mililitros.
“Os coliformes termotolerantes e a Escherichia coli são indicadores de contaminação por esgotos domésticos”, explica o professor. Neste sentido, a falta de balneabilidade está diretamente associada à falta de tratamento de esgotos.
Pontos impróprios na Zona Sul
Segundo a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), na Região Sul do Estado estão impróprios para banhos a Praia da Capilha, em Rio Grande, as águas do Camping Municipal em Cristal, a Praia da Barrinha em São Lourenço do Sul e a região do Camping Municipal de Pedro Osório. Os dados foram divulgados na última sexta-feira.
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