Paisagem
Uma cicatriz no rosto do Centro Histórico
Obra inacabada passa atualmente por estudos técnicos de quatro empresas interessadas que até agora não acenaram com a possibilidade de retomar o projeto
Paulo Rossi -
No coração de Pelotas, entre os casarões cheios de memória e o vai e vem de pelotenses que circulam diariamente pelo Centro Histórico, o prédio inacabado do Edifício Shopping Praça XV já consolidou sua imagem na paisagem local. O esqueleto visto também de longe - é a construção mais alta do município - tem uma história feita de muitos quases e ainda sem um ponto final. E, apesar de ser atualmente alvo de estudos técnicos de pelo menos quatro empresas interessadas, porém sem nenhuma decisão à vista, deve continuar assim por tempo indeterminado.
No caminho do avanço e da tão esperada conclusão do Praça XV está, principalmente, o fator financeiro. Há dois anos a prefeitura manifestou interesse em adquirir o prédio para transformá-lo no seu centro administrativo, reunindo as secretarias - hoje espalhadas em diferentes locais da cidade - em um único espaço através de uma Parceria Público-Privada (PPP). No entanto, de acordo com o assessor especial do gabinete do prefeito, Paulo Morales, após a realização de estudos constatou-se que era financeiramente inviável a obra. Assim, a prefeitura retirou seu interesse, deixando o Praça nas mãos de seus donos novamente.
Já hoje, o presidente da Comissão de Proprietários, Daniel Fuhro Souto, atribui à crise atual as dificuldades. Apenas depois de abril, conta Daniel, que empresas voltaram a procurar o grupo. Duas de Pelotas, uma de Porto Alegre e outra de São Paulo estão em fase de estudos, porém não há encaminhamentos. “De maneira geral não há novidades, mas é nosso desejo enquanto comissão que até o final do mês pelo menos alguma certeza apareça quanto a estas empresas.” Até lá, apenas conversas tratam do futuro do prédio.
Nas mãos do tempo
Em meio às dificuldades e incertezas que cercam o Praça XV, a obra sofre os efeitos do tempo e do clima. Na avaliação do professor de Engenharia Civil da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e diretor do Centro Politécnico, Paulo Guterres, que acompanhou a reportagem do DP ao local, os problemas se concentram na cobertura, onde há mais exposição dos materiais. No entanto, ao contrário do que se pode pensar em um primeiro momento, se mantém dentro de boas condições de conservação. “Apesar de ser um prédio antigo, está dentro das normas que usamos hoje, necessitando de pequenos reparos. Ele está pronto para ser retomado do ponto onde parou.”
Guterres alerta que não há riscos para a comunidade e que os reparos necessários são pequenos. Já encontrou poucas infiltrações e a estrutura ainda é firme, sem sinais graves de deterioração.
Olhando para trás
Era 1995 quando a obra que pretendia dar vida ao Shopping Praça XV deu seus primeiros passos. Através dela se previa a construção e comercialização de três pisos com 75 lojas e um estacionamento no subsolo. A ideia era construir ainda uma torre de 14 andares com 84 apartamentos, onde funcionaria o edifício Central Park. Três anos depois as obras estavam paralisadas.
Mesmo com 35% do projeto executado, uma grande parte das lojas chegou a ser vendida. Entre elas está o espaço do térreo, de frente para a praça Coronel Pedro Osório, adquirida pelo antigo Bamerindus e posteriormente vendida ao HSBC, que ocupa o local até hoje.
Iniciativa da Cinco Construção Indústria e Comércio, o projeto foi decretado, ao decorrer da obra, como massa falida. Em 2002 o empreendimento foi a leilão para pagamento de dívidas do proprietário da construtora. Em 2003 foi novamente a leilão, sem sucesso. Outra venda pública ocorreu em 2007, quando 65% das 74 lojas foram arrematadas. A área foi alienada em praça pela Justiça do Trabalho e adquirida por um grupo de empresários. Um novo leilão foi realizado em 19 de fevereiro de 2008, dos restantes 35%. A assessoria jurídica do HSBC Bank S/A e a Mitra Diocesana solicitaram o cancelamento.
Quando firmou o negócio na década de 1990, o objetivo da Mitra era possuir uma fonte de renda para as atividades pastorais, mas a Diocese não teve condições de arcar com os custos da retomada da obra da torre de apartamentos. Em 2010, com a revitalização do Mercado Central, os locatários foram transferidos para o local.
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