Saúde
Uma esperança para quem espera por cirurgia eletiva
Governo federal vai investir R$ 600 milhões para reduzir as filas e melhorar a gestão de regulação
Jô Folha - DP - Andrea Ramos agora tem mais esperanças de que irá resolver o seu problema
Por Cíntia Piegas
[email protected]
As dores abdominais em função de dois cistos renais e a demora para conseguir a cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) impedem Andrea Ramos Cruz, 42, de ter um vida normal, como varrer a casa, arrumar a cama e até voltar a ter um emprego. Ela convive com a falta de notícias por parte da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de quando poderá realizar o procedimento, mas nesta segunda-feira (6), ao saber que o governo federal investirá inicialmente R$ 600 milhões no Programa Nacional de Redução de Filas de Cirurgia Eletivas no País, mostrava estar mais confiante em uma solução.
Segundo o Ministério da Saúde, além da redução das filas por cirurgias no SUS, também estão nos planos diminuir a espera por exames complementares e consultas especializadas. O orçamento para o programa federal está previsto na PEC da Transição e será repassado a estados e municípios. No caso de Pelotas, a SMS diz estar fazendo um levantamento sobre a fila de espera para os procedimentos. Nesta segunda, ao ser consultada sobre os efeitos que o programa terá no Município, a equipe técnica da Secretaria informou ainda não ter conseguido analisar a portaria que estabelece a parte operacional da ação do governo federal.
"As filas de procedimentos são administradas pelos hospitais, então iremos solicitar uma atualização para saber quantos pacientes estão em fila para cada procedimento e fazer um estudo técnico para saber de que forma iremos aderir a esse programa e se os hospitais terão interesse", disse a titular da pasta, Roberta Paganini. Esse levantamento que o Município não tem é requisito básico para a liberação da verba, segundo consta na nota do Ministério da Saúde: "Cada unidade federativa terá que entregar um diagnóstico com a real demanda local por cirurgias, assim como um planejamento para executar o programa de redução das filas".
Assinado na tarde de segunda pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o programa prevê ainda recursos para melhoria dos processos de gestão das filas e do fluxo de atendimento dos usuários, o chamado sistema de regulação, além da qualificação da atenção básica. A primeira fase, no entanto, será direcionada a um mutirão de cirurgias pelo País, sendo que para isso serão disponibilizados R$ 200 milhões do total de recursos. Em uma segunda etapa, o dinheiro será repassado dependendo da quantidade de cirurgias realizadas, principalmente as abdominais, as ortopédicas e as oftalmológicas.
A preocupação é pela espera
"É um sopro de esperança, mas eu ainda tenho minhas dúvidas, pois tenho amigos em situação mais crítica e já tiveram suas cirurgias marcadas três vezes. Uma hora é porque falta anestesista, em outra é porque o médico está em férias", diz Andrea. Ela lembra que para conseguir uma consulta com urologista já havia sido complicado. O diagnóstico vai completar um ano em março, sendo que o último contato que a SMS teve com a paciente foi em outubro de 2022, após ela ter passado duas vezes no mês pelo Pronto-Socorro. Naquela avaliação, o médico constatou que o cisto do lado direito já estava com 9,4 centímetros.
Exausta de ter a vida limitada pela dor e com medo do agravamento da situação, a paciente fez um levantamento de quanto gastaria pela cirurgia particular. "Só para a retirada de um cisto, com internação e anestesia, teria que desembolsar R$ 40 mil, valor totalmente inviável." A alternativa seria judicializar, mas para isso Andrea teria que ter em mãos laudos de três médicos diferentes para ter alguma chance.
O programa
Entre os objetivos do programa, está o de "assegurar apoio técnico e financeiro a estados e municípios para responder ao problema crônico das filas de cirurgias eletivas, exames e consultas na atenção especializada". Na avaliação da pasta, essas filas têm crescido em decorrência do envelhecimento da população, do aumento de doenças crônicas não transmissíveis e, também, devido a sequelas da Covid-19.
"A ação prevê estratégias para garantir equipes cirúrgicas completas e melhorar o fluxo de atendimento em todo o Brasil. Cada estado poderá estabelecer as cirurgias prioritárias, de acordo com a realidade local", informou o Ministério da Saúde, por meio de nota. A segunda fase, entre abril e junho, inclui exames diagnósticos e consultas especializadas, com foco em tratamentos oncológicos.
Números desconhecidos
A reportagem questionou a Prefeitura de Pelotas sobre a quantidade de pacientes aguarando cirurgias eletivas na rede pública de saúde. O Executivo disse não ter a informação, indicando que são os hospitais os responsáveis pelos dados. Até o fechamento desta edição, no entanto, nenhum dos hospitais procurados havia respondido ao DP sobre esta fila de espera.
Mensurar esse tipo de demanda não se restringe somente ao Município. A vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Marília Louvison, descreve que o diagnóstico, quando existe, encontra-se apenas em nível municipal, e precisa ser consolidado em nível estadual e federal. Professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), ela defende que o trabalho que o SUS terá pela frente para vencer o represamento de cirurgias passa, primeiro, por dimensioná-lo.
Estado terá R$ 32,2 milhões
O Rio Grande do Sul deverá receber da União R$ 32,2 milhões para as cirurgias eletivas e consultas especializadas. Conforme o governo do Estado, a previsão é de um repasse inicial de R$ 10,7 milhões, com o restante de acordo com a apuração da produção dos serviços.
Conforme a Secretaria Estadual da Saúde (SES), o programa federal irá sesomar ao Cirurgias+, lançado pelo Estado para atender às demandas represadas de consultas, exames e cirurgias em sete especialidades com maiores filas e maior tempo de espera da população: traumatologia, cirurgia geral, cirurgia vascular, otorrinolaringologia, oftalmologia, ginecologia e urologia. A iniciativa, lançada em maio de 2022, conta com recursos de R$ 85 milhões do Tesouro do Estado, ao longo de 12 meses.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário