História

Uma rota de exílio durante a ditadura

Dissertação de mestrado apresentou os caminhos percorridos por perseguidos políticos; Pelotas teve grande importância nesse contexto

Paulo Rossi -

Durante os anos em que o Brasil sofreu a Ditadura Militar foram diversas as maneiras de resistir espalhadas pelo país: de forma teórica, através das artes e pela luta armada. Em particular no Rio Grande do Sul teve destaque a criação e organização de rotas de exílio utilizadas por militantes que, perseguidos pelo regime, viam-se obrigados a deixar casa, família, vida. Das maiores cidades próximas à fronteira, Pelotas teve grande importância nesse braço da luta.

Em sua dissertação de mestrado Ditadura Civil Militar na Região Sul gaúcha: militâncias e rotas de exílio, a hoje mestre em História, Marília Brandão, explica que o Rio Grande do Sul desempenhou esse papel durante os Anos de Chumbo por fazer com Uruguai e Argentina uma espécie de “fronteira seca”, ao invés de ser separado destes países por imposições naturais como rios. Ela salienta também no trabalho a existência de cidades binacionais, como Jaguarão, sem rígidas fiscalizações em seus limites.

Marília diz achar interessante a forma como eram organizadas as rotas. Existiam aqueles que as pensavam e os simpatizantes, que dirigiam os carros, recebiam os militantes, entre outras atividades. “Era tudo muito mutável e muito dúbio. Não podia funcionar sempre da mesma forma, mas se mudasse sempre colocava o perseguido em igual risco. O Rio Grande do Sul era um local de saída, mas também muito visado pelas ditaduras dos países da volta.” Também as fugas eram um momento de união da esquerda, com diferentes concepções e visões de mundo se juntando para ajudar uns aos outros.

Só quem viveu
Antônio Voltan, professor aposentado hoje com 72 anos, era um dos militantes que atuavam na organização das rotas de fuga durante a ditadura. Ele conta, porém, que não havia exatamente um roteiro a ser seguido sempre que alguém precisava sair do país. Com o objetivo de despistar os militares, era tudo feito em locais diferentes, com pessoas diferentes e de formas diferentes. Navios, carros e principalmente ônibus, também com o objetivo de driblar o Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi).

O destino, aponta, era quase sempre o Uruguai, mas algumas pessoas foram para lugares mais distantes, como a China e a Albânia - um dos militantes, inclusive, a resistência apenas ficou sabendo de seu destino ao ouvi-lo em uma rádio deste país. “Normalmente eles chegavam, falavam a senha e nós apontávamos a melhor forma, o melhor lugar para onde ir”, diz.

Ele lembra, com riso que tenta disfarçar a tensão, de que foi por causa das fugas que acabou sendo pego. “Me pediram para recepcionar alguém que estava em frente a um bar. Quando vi que as luzes estavam apagadas percebi. Disseram para eu segui-los, eu disse que não. Aí me levaram para o quartel, me torturaram e eu tive a ideia de gritar. Nesse momento me soltaram”, conta.

Para Voltan, o sentimento de nostalgia em relação à ditadura, que ronda o Brasil atualmente, é reflexo de falta de informação. “A probabilidade de acontecer é a mesma daquela época. O conhecimento da história é muito pequeno”, opina. Segundo Marília, o processo é desmemorização do período. “Há um esvaziamento completo, se fala bem do regime tanto no sentido econômico como no social.” Daí, para ambos, a importância de se manter luz em uma das épocas mais sombrias da história do Brasil.

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