História

Uma viagem entre passado, presente e futuro

Desafio é fazer com que materiais identificados nas escavações ajudem a compreender a história e ainda gerem provocações para novos comportamentos

Pedaços de vidro lascados utilizados para fabricação de ferramentas. Fragmentos de cachimbos confeccionados a mão. Uma pederneira de pedra. Em cada peça um tanto de história. Mas não para entender apenas o passado. A provocação é para que cada objeto ou pequena fração transforme-se em conhecimento para revisar o presente e reescrever o futuro. É um dos convites que o Diário Popular apresenta nesta reta final do mês de aniversário de Pelotas: que a população - de 343.826 moradores, conforme a última estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de agosto de 2021 - se questione como chegamos até aqui e formamos este caldo cultural.

E não basta enxergar os luso-brasileiros. Nem alemães, pomeranos, italianos, franceses e austríacos que vieram para essas terras. A população original, bem antes da história oficial - contada a partir daquele 7 de julho de 1812 -, remete a etnias indígenas, como Mbyá-Guarani. E com o Brasil respondendo por 45% de todo o comércio de escravizados levados para as Américas, associado à forte produção de charque principalmente no século 19, os africanos estão diretamente ligados à história de Pelotas. Não é novidade. Mas e que município somos hoje? E por quê?

"O projeto de imigração chancelado pelo governo monárquico, a partir de 1870, foi uma política deliberada para branquear a população. E, em pleno século 21, nós não nos desvencilhamos dessas estruturas e elas continuam funcionando na sociedade brasileira contemporânea, latino-americana também", destaca o professor do programa de pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Lucio Menezes Ferreira. E ao mencionar a urgência de mudança nas relações de poder, o historiador sustenta que o racismo estrutural é um problema de política econômica e lembra: "Não houve abolição porque não houve reparação em termos de justiça social".

Novas etapas de estudos estão por vir

Ainda não há uma data definida, mas a equipe do Laboratório de Estudos Interdisciplinares de Cultura Material da UFPel voltará a campo neste segundo semestre, em duas frentes: retomar a escavação na Charqueada São João e realizar levantamento arqueológico nas áreas que ficam às margens do canal São Gonçalo até o fim do arroio Pelotas, já que hoje existem tecnologias para captação de imagens que não estavam disponíveis quando o trabalho para definição de pontos com potencial para escavações começou, em 2010.

Um outro braço das atividades, de caráter etnográfico, também continuará com força. É a interação com a comunidade, para que os materiais encontrados passem por interpretação e classificação dessas populações, conforme suas percepções e sentimentos. É o que os babalorixás e a ialorixás têm feito com relação a fragmentos que surgiram na São João, por exemplo.

E ao enfatizar que a arqueologia traz dados e evidências que não serão encontrados em documentos históricos, o pesquisador da diáspora africana, resume: "Não vejo motivo pra celebrar. Vejo motivo pra pensar criticamente esses 200 anos e a partir desse pensamento modificar as relações contemporâneas".

Perfil da UFPel vira termômetro do mosaico cultural

Dados sobre a origem dos alunos de graduação e de pós graduação da UFPel são apenas um exemplo da diversidade que compõe o dia a dia da cidade. Há estudantes de 25 países matriculados: Alemanha, Angola, Argentina, Austrália, Benin, Bolívia, Cabo Verde, Camarões, Colômbia, Cuba, El Salvador, Equador, Espanha, Estados Unidos, Gabão, Guiné Equatorial, Honduras, Haiti, Jamaica, México, Moçambique, Peru, Portugal, Uruguai e Venezuela. Isso sem falar nos alunos de diferentes estados brasileiros que também trazem sotaques distintos a Pelotas.

Confira o material disponibilizado na edição impressa do Diário Popular
Pelotas 210 anos

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