Empreendedorismo

União para fortalecer o empreendedorismo negro e feminino

Profissionais se juntam, criam estética, mas inauguram um espaço que vai bem além de promover a beleza; quer gerar reflexão e acolhimento

Foto: Carlos Queiroz - DP - Profissionais negras se uniram em iniciativa pioneira

Por Helena Schuster
[email protected]
(Estagiária sob supervisão de Vinicius Peraça)

 
Neste fim de semana, no 20 de Novembro, celebra-se, no Brasil, o Dia da Consciência Negra, data que busca combater o racismo, conscientizar as pessoas e valorizar a cultura negra. Nesta edição, o DP traz a história de empreendedoras que, em busca de mais identificação e da criação de um espaço acolhedor no setor estético, tornaram um sonho em uma iniciativa pioneira em Pelotas. Juntas, a biomédica Ângela Medeiros e a massoterapeuta Jucimara Pedra criaram a primeira estética da cidade formada completamente por profissionais negras.

Em funcionamento desde o fim de maio deste ano, a ideia era pensada pelas duas amigas há muito tempo. "A gente entendeu, através da nossa dor, que as pessoas negras não se sentiam tão acolhidas em estéticas e centros de beleza", observa Ângela. O espaço criado pelas pelotenses oferece diferentes serviços do segmento de beleza, todos eles prestados por mulheres negras. "Nossa ideia foi acolher mulheres negras empreendedoras que tinham os mesmos valores que nós".

Com apenas duas semanas de casa, a nutricionista Taila Xavier conta que já percebeu que trabalhar em um contexto como o da estética é diferente. "Quando as gurias convidaram, topei de cara. É outra experiência poder crescer juntas, fomentar o empreendedorismo negro e mostrar que a gente é capaz como todas as outras pessoas", observa. Atualmente, seis profissionais trabalham no local, além de uma rede de outras mulheres que o espaço físico não comporta, mas que fazem parte da equipe.

Identificação para o público negro, acolhimento para todos
A representatividade também é um aspecto importante do espaço. As profissionais destacam que os serviços são para todas as pessoas, mas que é importante garantir e reforçar a estética como um espaço seguro para as pessoas negras. "A gente atende todo mundo, mas queremos que o nosso público, que as pessoas negras, se sintam acolhidas e sejam bem recebidas", comenta Ângela.

A importância da representatividade se reflete no feedback das clientes. "Já aconteceu de clientes chegarem até mim porque eu postava fotos de clientes pretas nas redes sociais. Elas me diziam que outras massoterapeutas só tinham fotos de mulheres brancas", conta Jucimara. O incentivo ao autocuidado para as pessoas negras também passa pela identificação com as profissionais. "A gente trabalha muito com a valorização da mulher, independentemente da raça. Mas sabemos que, quando a gente sente a dor, nós conseguimos passar melhor para as clientes negras a importância do autocuidado", avalia.

Não é fácil, mas é possível
O caminho do empreendedorismo não é fácil para ninguém. As idealizadoras do espaço contam que sofreram na pele as dificuldades de empreender, que são ainda maiores para as mulheres negras. "No prédio em que eu trabalhava antes, eu era a única negra que tinha uma sala. Como lá não tinha porteiro, muitas vezes eu descia para abrir a porta e, várias vezes, as pessoas não me enxergavam como proprietária de um espaço lá", relata Jucimara, que começou a empreender sozinha na área da massoterapia.

As duas contam, também, que encontraram pessoas pelo caminho que não entendiam os valores e a importância do posicionamento do espaço, mas que lutaram pelos objetivos do negócio. "Apesar das dificuldades, a gente vem correndo para fazer nosso nome e também para mostrar para os nossos que eles podem fazer parte desse mundo do empreendedorismo", reforça Ângela.

Jucimara ainda complementa que, muito além de celebrarem o caminho trilhado pelo negócio, as empreendedoras também gostariam de ver outras iniciativas surgindo na cidade. "O caminho é difícil, mas é possível. Queremos mostrar para as pessoas que uma biomédica pode ser preta e pode empreender ou que a manicure pode empreender", comenta. "Nós queremos quebrar esse paradigma e ficaremos muito felizes em ver outras mulheres empreendendo também", finaliza.

Dia da Consciência Negra
O historiador, advogado e militante do movimento negro, Fábio Gonçalves, reforça que a importância do 20 de Novembro é pautado pela invisibilização da população negra no Brasil. "O extremo sul é um locus exemplar para pensar como os mecanismos de segregação operaram e ainda operam para invisibilidade de alguns grupos sociais, prioritariamente os negros", observa Gonçalves, que remonta ao período de escravização em Pelotas como uma referência importante para entender o cenário até os dias de hoje.

O historiador avalia que um dia para discutir a consciência negra ainda é importante porque o chamado paradoxo da invisibilidade, onde há uma presença demográfica massiva da população negra invisível em espaços de dignidade, é operante no país. "Nossa missão é fazer com que as discussões sobre a consciência negra, as coisas da negritude e a disparidade racial sejam mais contundentes e possam, um dia, diminuírem o que nós entendemos como segregação sistêmica do grupo social dos negros no Brasil", finaliza.​

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Mais de mil castrações de animais em três meses Anterior

Mais de mil castrações de animais em três meses

Professores dão dicas para o segundo dia Próximo

Professores dão dicas para o segundo dia

Deixe seu comentário