João Carlos M. Madail
A dependência do petróleo no desenvolvimento das atividades humanas
João Carlos M. Madail
Economista, professor, pesquisador e diretor da ACP
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O petróleo tem sido uma das maiores fontes de geração de energia para o desenvolvimento das atividades humanas, além de influenciar disputas geopolíticas no planeta. Acredita-se que o uso do petróleo esteja datado desde os primórdios da civilização, pois povos do Oriente Médio, Egito, Mesopotâmia e da China já haviam utilizado o combustível fóssil nas formas de betume, asfalto para pavimentação de estradas, iluminação e até fins bélicos.
No passado se pensava que a reserva de petróleo nunca acabaria, mas não se avaliou que o desenvolvimento das grandes nações demandaria volumes expressivos do produto a ponto dos países árabes, maiores produtores, criassem, em 1973, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), iniciando a valorização do produto em mais de 400%. No Brasil, mesmo com a descoberta e a extração de petróleo na Bacia de Campos, não há o refino do produto na quantidade necessária em função da falta de adaptação das refinarias para o refino do petróleo brasileiro mais pesado, necessitando importar o produto. Mesmo o petróleo extraído do pré-sal necessita maquinário específico nas refinarias, ainda não resolvido, levando o País a exportá-lo.
Enquanto isso, o Brasil continua produzindo três milhões de barris por dia e consumindo dois e meio milhões. Mesmo assim, importa 300 mil barris por dia. A questão inquietante é: se produzimos mais do que consumimos, por que não somos autossuficientes? A resposta está nas refinarias brasileiras que não refinam a quantidade necessária para abastecer o mercado interno. Além do mais, o País precisa buscar no exterior um óleo que não é produzido aqui. No Brasil a indústria é a que mais consome petróleo, ou seja, é responsável por 53% do consumo nacional, enquanto o transporte é o que mais consome derivados do petróleo, visto que o País optou pelo transporte rodoviário em detrimento do transporte ferroviário ou fluvial.
Foi durante a presidência de Juscelino Kubitschek, ao final da década de 1950, que o País optou pelo transporte rodoviário, praticado de maneira contundente. A expectativa era estruturar o modal rodoviário a fim de proporcionar a construção de polos industriais de automóveis com o objetivo de ampliar a geração de empregos, embora hoje as indústrias desse setor empreguem cada vez menos trabalhadores em função das novas tecnologias de produção. Não há dúvida de que o transporte rodoviário ainda é o mais utilizado no Brasil e não há previsão de mudança, pois não existem investimentos suficientemente fortes em nenhum outro modal de transporte e nem há iniciativas para que isso aconteça tão cedo. Enquanto isso, o transporte de cargas continuará sendo uma modalidade fundamental da cadeia produtiva, visto que é através dele que os itens saem dos setores produtivos e chegam até os compradores.
Como os nossos governantes não costumam pensar um pouco adiante dos interesses da Nação, a British Petroleum projeta que as reservas de petróleo no mundo acabarão em 40 a 50 anos, tempo talvez insuficiente para encontrarmos outras fontes de energia, preferencialmente renováveis, que substituam combustíveis poluentes. A Credit Suisse, em relatório divulgado recentemente, aumentou as suas projeções para o preço do barril Brant em 2024 de 70 para 75 dólares e, em 2025, de 65 para 70 dólares. Para 2023, a mesma fonte projeta 85 dólares por barril. Conservadora, frente ao consenso do mercado, que sinaliza 96,25 dólares.
Para os milhões de brasileiros que consomem cerca de 19,72 milhões de metros cúbicos de gasolina diariamente, as notícias dos valores futuros dos derivados, acrescidos dos impostos federais e estaduais, são preocupantes, visto que o Brasil tem um automóvel para cada 4,4 habitantes, ou seja, 45,4 milhões de veículos a combustão dependentes dessa fonte de energia.
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