Editorial
A fome é urgente
Na última quinta-feira, o DP trouxe uma reportagem de Vitória de Góes e Jô Folha sobre o Restaurante Popular de Pelotas. Como já fez em diversas outras vezes ao longo destes 15 anos de atividades desse serviço, o Jornal esteve no local acompanhando o trabalho das pessoas que se dedicam a fazer o alimento, servi-lo e, com isso, acolher cidadãos. Também presenciou a movimentação de boa parte das centenas de pelotenses que diariamente recorrem às refeições. E essa presença da equipe testemunhou e trouxe aos leitores pontos importantes sobre o Restaurante. Positivos e preocupantes.
Iniciemos por aquilo que, em um contexto ideal, não deveria ocorrer: o aumento da demanda pelos pratos de comida disponibilizados. Conforme Maiquel Fouchy, coordenador técnico da Organização da Sociedade Civil (OSC) Gesto, que atua neste serviço público, até 2019 eram servidas em torno de 389 refeições por dia, em média. Destas, cerca de um terço de forma gratuita e as demais mediante o pagamento de R$ 2. De lá para cá, a necessidade cresceu, passando para até 450 pratos servidos diariamente, sendo 200 de graça e os demais ao custo de R$ 4. Ou seja: o preço cobrado de parte dos usuários para contribuir com o custeio dobrou devido à inflação dos alimentos, somando-se a um acréscimo de 65% nos repasses feitos pela Prefeitura. Mas o que mais chama atenção é que, ainda que estes R$ 4 sejam valor baixíssimo por uma refeição - ainda mais com a alta qualidade da servida no Restaurante Popular -, cada vez menos pelotenses têm condições de arcar. Tanto que o número daqueles que comem de graça justamente por não terem dinheiro algum mais do que dobrou.
Agora, o lado positivo trazido pela reportagem: mesmo frente a essa alta demanda e à pressão provocada pelo preço dos alimentos, esta iniciativa é mantida como uma ação firme e contínua pelo poder público local e por quem atua diretamente na sua operação. Inclusive, como dito, com aumento nos atendimentos. E, a julgar pelo que indica o secretário de Assistência Social, Tiago Bündchen, há intenção e estudo em andamento sobre a possibilidade de levar o serviço a bairros da cidade via parceria com entidades ou associações. O que seria um grande passo.
Ações como o Restaurante Popular podem não ter o caráter estruturante capaz de solucionar um problema social como a fome. Contudo, não há missão diária mais urgente para o poder público e seus parceiros da sociedade do que garantir alimento a quem tem fome, ao mesmo tempo em que atua para reduzir a miséria e dependência desse tipo de assistência. E se, pelo contexto local e também nacional Pelotas não está tendo sucesso no enfrentamento à pobreza, pelo menos pode se orgulhar de contar com uma iniciativa bem executada e fundamental para tanta gente como o Restaurante.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário