Eduardo Ritter

Finalmente embarquei no fusca azul

Professor do Centro de Letras e Comunicação da UFPel
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No final do ano passado, escrevi neste espaço sobre as palestras que assisti do fotógrafo, jornalista, filósofo e escritor Nauro Júnior sobre o lançamento do livro A vida cabe em um fusca. Assim que foi lançado, comprei a obra. No entanto, naquele momento eu embarcava em um projeto profissional e pessoal que também me ocupava bastante tempo e energia. Pois bem, eis que a minha produção literária se encaminhou para o final e (finalmente!) consegui respirar e entrar no fusca do Nauro através do livro.

Já passei da metade da viagem pelas páginas de A vida cabe em um fusca e me sinto com o coração dividido, pois ao mesmo tempo em que a leitura nos dá vontade de acelerar para embarcar em novas aventuras, ela também nos faz pisar no freio para que a degustação de cada história seja mais lenta e saborosa. A narrativa do Nauro é de tirar o fôlego e, ao mesmo tempo, contagia. No meu caso, que estou passando da página 200, as andanças do Nauro me trouxeram uma perspectiva nova, diferente da que senti, por exemplo, quando li o clássico On the road duas décadas atrás. Explico-me.

Quando li On the road, eu estava na casa dos 20 anos e, assim que terminei a leitura da última página, minha vontade era ir para qualquer rodovia, pegar caronas e viajar pelo mundo sem destino certo. Simplesmente ir de cidade em cidade, buscando o meu lugar no mundo. Agora, não. Na casa dos 40, identifiquei-me com a filosofia mais madura do Nauro de viajar e viajar, mas tendo um lugar para voltar. Ou seja, a essa altura eu não quero mais rodar o mundo para tentar me achar, mas sim, quero partir para voltar. Afinal, assim como ele, encontrei-me aqui em Pelotas. Depois de ter morado em cidades de todos os tipos e tamanhos, apaixonei-me por esse cantinho aqui no sul do sul do Brasil. Meu desafio, agora, é achar o meu lugar dentro da cidade, pois ando meio cigano nas minhas moradias. Mas essa já é outra história...

Outra filosofia de vida que partilho com o Nauro é a do "nada é impossível", especialmente quando estamos em dificuldades. Na maioria dos cases de sucesso, o personagem parte de uma situação completamente adversa para se reerguer com todas as forças. O perrengue é a germinação da criatividade. Lembro quando eu era professor substituto e meu contrato estava prestes acabar. Minha filha era pequena e eu ficaria desempregado, com aluguel, comida e tudo o mais para pagar. Elaborei um plano mirabolante na minha cabeça que no fundo eu sabia que não daria certo. Ao mesmo tempo, entrei no doutorado e na primeira reunião com os alunos o professor Juremir Machado da Silva explicou sobre como funcionava a famosa "bolsa sanduíche" da Capes. Saí de lá com a solução para a minha vida: de desempregado a bolsista internacional. Assim como a Chiquinha fez com o seu Madruga no episódio em que ela arruma as malas antes de ganhar a viagem para Acapulco, eu disse para todos:

- Vou para Nova York!

Todo mundo riu, afinal, eu era praticamente um desempregado e ainda faltava fazer projeto, fazer a qualificação do doutorado em um tempo absurdo, ser aprovado na universidade de lá e todo o resto. Todos os ventos sopravam contra, mas no desespero corri como um louco e, um ano e meio depois, eu estava instalado em Manhattan estudando na Universidade de Nova York. Lendo o livro do Nauro, estou despertando para novos sonhos, afinal, parafraseando Nauro e Chorão: "o impossível é questão de opinião e disso os loucos sabem... Só os loucos sabem!". Amém!

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