Nery Porto Fabres

A poesia e a história se fundindo

Saíam dos pés da Lagoa dos Patos alguns capinchos em correria, cobras partiam da água para a mata rasteira, perdizes levantavam voos no campo aberto, quero-queros faziam algazarra, borboletas arriscavam revoadas com os beija-flores os acompanhando, garças brancas como neve abriam suas longas asas suspendendo suas pernas compridas e finas antes de alçar voo para longe do movimento.

Homens com pás nos ombros, enxadas e sacos de sementes amarrados à cintura traçavam uma linha imaginária para semearem na terra virada com arado manual, puxado por juntas de bois...as enxadas fechavam as covas, as pás bordavam o monte de terra, os bois eram soltos depois de arar os canteiros....os homens não tinham essa liberdade.

A vida tinha um sabor de suor, o cansaço marcava o início da lida do campo, os sentimentos eram confusos....os direitos só alcançavam a água fresca das fontes naturais que desciam pelos campos e as três refeições diárias...a dor na alma perdida da descrença na religião cristã que os chamavam de diabos pretos, e no corpo em feridas abertas, só curava com a morte precoce.

Junto deles trabalham também na terra arada os pobres açorianos que foram ludibriados pelos militares portugueses e pela lei da imigração e povoamento do novo mundo. Na esperança de uma vida melhor nas Américas caíram na armadilha dos reis europeus.

 A diferença entre escravos e açorianos eram os grilhões e as chibatadas nas costas, além do valor monetário. Os açorianos se convenciam a trabalhar pela fé em uma divindade que dominava os reinados, os africanos eram produtos comprados e vendidos sem interesse pela fé de seus dominadores.

O Sol aparecia lentamente no horizonte, as águas brilhavam na Lagoa, transitava por elas encantadoras embarcações dos filhos dos burgueses...gente da alta nobreza, vestiam tecidos de seda vermelha e branca, trajes de linho bege, de algodão nobre vinham outras peças de roupa pomposa em cores pastéis....usavam sombreiros largos feitos de tecidos chineses, europeus e indianos....por baixo destes chapéus, dentro das cabeças, pensavam em poder, ostentação, fortunas e domínio sobre todas as outras criaturas terrestres .

A sociedade em Rio Grande tomava forma, o cultivo da terra era uma realidade, riquezas se acumulavam nos porões dos navios e no convés...nas cabines de excelentes aposentos estavam o poder dos religiosos, burgueses militares de alta patente e os políticos que se organizavam rapidamente .

Os acordos entre famílias abastadas transitavam pelas lagoas e pelos mares gaúchos em companhia da empáfia dos reis.
Região que se alargou por cima das águas, abraçou as encostas das matas, correu pelos banhados e por campos a se perder de vista...povo que se dobrou à crença, se permitiu governar-se pela igreja.
Terra gaúcha adorada pelos europeus, estimada pelos políticos de todas as bandeiras...(continua)

Trecho da obra – A História do Rio Grande sob um olhar descontraído

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