Eduardo Allgayer Osorio
Alimentos orgânicos estão livres de componentes nocivos à saúde?
Eduardo Allgayer Osorio
Engenheiro agrônomo, professor titular da UFPel, aposentado
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No Brasil, os defensivos agrícolas (agrotóxicos) são vítimas de intensos ataques, a maioria deles de conteúdo preconceituoso. Começa pela denominação que lhes é atribuída. Se na maioria dos países são chamados de pesticida (pesticide), fitossanitário (phytosanitary) ou defensivos agrícolas (agricultural defensives), aqui são "agrotóxicos" (os medicamentos, que têm efeitos colaterais e riscos de intoxicação tão intensos quanto os defensivos agrícolas, não são chamados de "humanotóxicos").
Na demonização dos defensivos agrícolas, são promovidos como "heróis" os "alimentos orgânicos", produzidos sem o uso de insumos sintéticos (os sintetizados em laboratório, tal como é feito com os medicamentos). Esquecem os defensores dos orgânicos que, tal como acontece conosco, as plantas também adoecem e, sem controlar os patógenos que as agridem, seus frutos passam a portar bactérias, fungos e micotoxinas em quantidades maiores do que nos alimentos produzidos sob a proteção de fungicidas, inseticidas e herbicidas. Como exemplo, podemos citar as micotoxinas, metabólitos tóxicos produzidos pelos fungos que atacam as plantas na lavoura e que, presentes nos alimentos, agridem a saúde dos consumidores. Protegidas por fungicidas, as plantas deixam de ser atacadas, reduzindo o risco dos alimentos colhidos conterem micotoxinas tóxicas. Já as doenças causadas por fungos do gênero Aspergilus produzem as aflotoxinas, substâncias tóxicas que agridem o fígado e os rim dos consumidores.
Para controlar o ataque de insetos nos cultivos, a agricultura orgânica usa alguns extratos vegetais como a nicotina, extraída do fumo, a azadiractina, extraída da planta Nim, ou as piretrinas, extraídas do crisântemo, todas elas muito tóxicas. As piretrinas podem causar alergias, asma e problemas hormonais e a nicotina dispensa comentários quanto a sua toxicidade. Outro defensivo permitido na agricultura orgânica é o sulfato de cobre, uma substância tóxica que, diferente dos defensivos sintéticos que se desnaturam na lavoura, não se degrada no ambiente natural, contaminando o lençol freático, as minhocas e a vida microbiótica do solo, as abelhas, os peixes e vários insetos predadores de pragas que atacam as plantas. Ao proibir o uso de cultivares transgênicas, portadoras de genes de resistência às doenças, pragas e invasoras, a agricultura orgânica deixa as plantas expostas a esses problemas, exigindo o emprego de práticas de controle eventualmente nocivas ao homem e ao ambiente.
A possibilidade de produzir alimentos sem usar produtos químicos sintéticos é real. Mas o resultado inevitável será uma menor produtividade por área cultivada, um aumento das perdas na lavoura e uma necessidade de intensificar o uso da mão de obra, exigindo aumentar a área cultivada para ter uma colheita comparável àquela obtida na agricultura convencional, requerendo ocupar novas áreas e intensificar o desmatamento, sem esquecer que os alimentos colhidos terão um preço mais elevado na hora da sua comercialização.
Mais do que proporcionar benefícios à saúde humana e ao meio ambiente, a agricultura orgânica se constitui numa jogada de marketing dirigida a um público de alto poder aquisitivo.
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