Editorial

As possibilidades da Bacia de Pelotas

Projetada desde a década de 1950, a potencial existência de petróleo no litoral do Rio Grande do Sul, especialmente no extremo meridional, passa por várias gerações de pesquisadores com empenho em demonstrar claramente se tal riqueza mineral existe de fato em poços no fundo do mar, se há volume considerável ou se não, se na verdade trata-se apenas de área que não representa aquilo que ao longo destes mais de 70 anos por diversas vezes ganhou repercussão e gerou esperança de que o Estado – e sobretudo os municípios – pudessem ganhar milhões em arrecadação com impostos e royalties, por exemplo.

Fato é que, desde os primeiros estudos sobre a Bacia de Pelotas, assinados pelo geólogo, intelectual e ex-vereador José Anélio Saraiva, o assunto pode ser comparado a uma montanha russa cheio de altos e baixos, com avanços e recuos. Períodos como os anos de 1974 a 1996, quando pelo menos oito poços foram perfurados diante do indicativo de que se poderia encontrar óleo ou gás natural. Ou como mais adiante, no começo da década de 2000, quando a Petrobras assinou seu primeiro contrato de concessão de área com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), em parceria com a Exxon. Também em 2004, quando mais um bloco foi obtido. 

Tentativas igualmente frustradas de abrir novas fronteiras exploratórias, colocadas ainda mais à margem diante da descoberta do pré-sal e sua reserva gigantesca que concentrou investimentos do País.
De lá para cá, algumas iniciativas de atrair a retomada de estudos, somadas a articulações junto à ANP, Petrobras e governo federal, foram tomadas por políticos da Zona Sul. Contudo, não houve conversa de gabinete capaz de sobrepor a ciência e o mercado, que continuaram indicando a inviabilidade da Bacia de Pelotas.

Contudo, a novidade mais recente, de que uma área contígua, só que em águas uruguaias, atraiu interesse de uma exploradora, retoma o debate sobre a capacidade de se retirar do litoral do extremo sul gaúcho petróleo e gás. Algo que poderia revolucionar economicamente a região, tornando municípios aptos a dar um salto em desenvolvimento, oportunidades e qualidade de vida às populações.

A virtual exploração, porém, segue muito mais uma esperança futura do que propriamente algo palpável. Como explica o geólogo Giovani Cioccari, da UFPel, ouvido pelo DP para reportagem que você confere nesta edição, a quantidade de petróleo que haveria na Bacia de Pelotas não seria relevante para extração. E, além disso, o maior potencial estaria no chamado hidrato de gás. Riqueza que, hoje, sequer conta com tecnologia de exploração.

Ao que tudo indica, o sonho de José Anélio Saraiva e grande parte dos gaúchos, especialmente da Zona Sul, de ver a região como produtora de petróleo e gás continua distante. Ainda mais diante da inevitável transição energética tão discutida mundialmente e que ganha velocidade.

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