João Neutzling Jr.
As transformações (para pior) no mundo do trabalho
João Neutzling Jr.
Economista, bacharel em Direito, mestre em Educação, auditor estadual, professor e pesquisador
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A comemoração do Dia do Trabalhador em 1º de maio remonta ao ano de 1886, em Chicago (EUA), quando operários entraram em greve contra a jornada de trabalho de até 17 horas. Os trabalhadores defendiam a famosa equação 8 + 8 + 8 = 24. Ou seja, oito horas na jornada de trabalho, oito horas de descanso e outras oito horas para demais atividades. Houve confronto dos trabalhadores grevistas com a polícia que resultou em 11 mortes, dezenas de feridos e centenas de presos. E hoje o mundo do trabalho passa por novas transformações.
O planeta vive hoje a era neoliberal iniciada em 1979/1980 com a dupla Margaret Tatcher na Inglaterra e Ronald Reagan nos Estados Unidos. A aliança conservadora resultou no chamado Consenso de Washington, conforme o trabalho do economista John Williamson em "What Washington means by policy reform?" (1990). O resultado foi a desregulamentação dos mercados com livre mobilidade do capital financeiro, mas sem garantias ao fator trabalho. Ou seja, uma empresa pode entrar e sair de um país sem problemas. Bancos estrangeiros podem aplicar recursos financeiros em países emergentes em busca de maior lucro, mas os trabalhadores dos países do terceiro mundo não têm acesso ao mercado de trabalho do primeiro mundo.
As empresas multinacionais mantêm suas unidades de desenvolvimento de produtos/direção nos países de origem, enquanto transferem as unidades de produção para países do terceiro mundo, onde o salário médio do operário é muito menor. Na tabela abaixo temos uma dimensão da realidade.
Salário mínimo (2017)
País Salário em dólares (US$)
Bangladesch 38
Camboja 80
Paquistão 91
Vietnã 112
Tailândia 248
Hong Kong 615
Taiwan 638
Coreia do Sul 1.034
Japão 1.319
Fonte: banco de dados do autor
É notório o caso de fabricantes gaúchos de sapatos que transferiram suas fábricas para o Nordeste do Brasil (com custo salarial mais baixo) e depois realocaram as fábricas para a China com custo ainda menor de salário. E sabe-se que: lucro = receita - despesa.
No México, ao lado da fronteira americana, estão instaladas as maquiladoras mexicanas. Empresas americanas que se aproveitam do México com baixos impostos, leis ambientais permissivas e salários muito menores do que nos Estados Unidos. Isto é, a maquiladora surgiu como uma maneira de satisfazer a crescente demanda mundial por produção de baixo custo. Não há transferência de tecnologia, apenas montagem de bens manufaturados. Nos Estados Unidos o salário-hora é de US$ 7,50 (média), enquanto no México é de US$ 3,32. Logo, tem-se mais produção com redução no custo de salário de mais de 50%. Quem se beneficia é o capitalista que transfere seus ativos em busca da maior taxa de retorno possível.
Aqui no Brasil a Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017) pouco fez pela melhoria de renda ou volume de empregado, apenas retirou direitos históricos do trabalhador.
Capitalistas desejam lucro cada vez maior, enquanto trabalhadores querem um salário minimamente digno e decente. Neste conflito, um modelo a ser admirado é a Coreia do Sul. O país tem área física 85 vezes menor que o Brasil, mas renda per capita de US$ 35 mil, ante renda per capita de US$ 10 mil do Brasil. A taxa de desemprego na Coreia do Sul é de 5,5% da população ativa, enquanto no Brasil hoje está em 8,8%. Um caso de sucesso econômico distributivo de renda.
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