Sandro Mesquita
Até 2023
Por Sandro Mesquita
Coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) Pelotas e Extremo Sul
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Então é Natal! Dentro da perspectiva do que disse no último texto relacionado com algumas coisas que venho escrevendo sobre a situação de famílias no Brasil inteiro, me preocupa muito a questão alimentar de uma parcela significativa da população.
É notório que nesse período, durante os anos, desde que me conheço por gente (como diria minha mãe), a atmosfera, o clima, o coração das pessoas se amolece e fica mais sensível. O sentimento de solidariedade toma conta das pessoas, das famílias, das empresas e instituições por conta de tudo que o Natal simboliza, auxiliado pelas grandes agências de marketing que usam de imagens, palavras e cenários nas propagandas que nos levam à reflexão e ao consumo, é claro.
Dentro de tudo isso, vemos campanhas de arrecadação de alimentos de instituições das mais renomadas até as de menor porte, mas todas unidas em um bem comum, com o mesmo foco e com uma demanda ainda maior por conta e consequência de tudo que passamos durante os dois últimos anos, que vai da epidemia de Covid, passando pelo abalo na economia e o grande números de desempregados que foi gerado.
Em uma das campanhas que tem a mídia como parceira, pegando como exemplo, vemos gaúchos e prendas cavalgando e passando de rincão em rincão, de coxilha em coxilha, arrecadando alimentos. Assim como em outras campanhas, sempre vemos pessoas mais humildes contribuindo de bom grado. Pois é isso, para além do sentimento, sempre foi prática existente nas nossas comunidades alcançar alguma coisa a quem precisa.
Não estou querendo dizer com isso que são só as pessoas de menor aporte que ajudam. Quero acreditar que outras famílias mais afortunadas também o fazem, assim como grandes empresas. Mas nessa luta diária atrás de alimentos, no afã de ajudar pessoas, vejo várias ações, projetos, instituições e movimentos sociais nas suas limitações de articulação, de divulgação, de captação e de credibilidade junta à sua própria comunidade, às vezes. Não por culpa deles ou pelo trabalho que eles desenvolvem. Ao contrário, muitos trabalhos são maravilhosos e objetivos nas suas ações. Por outro lado, há o pensamento social coletivo de pessoas de dentro das próprias comunidades que desejam sempre ajudar as "grandes campanhas", esquecendo de valorizar as pessoas e trabalhos desenvolvidos ali ao lado.
No meio disso temos o Estado e o Poder Público que deixam em muito a desejar em suas ações sociais e assistenciais. E ainda é muito tímida a sua relação com movimentos sociais de ponta, ou seja, que estejam realmente desenvolvendo trabalho de base e que, com essa parceria e convênio, chegariam a mais pessoas com uma qualidade logística e funcional, dividindo assim essa responsabilidade.
Mas a questão é que as pessoas e famílias necessitadas e assistidas por quem quer que seja, vulnerabilizadas pela condição socioeconômica e estrutural, precisam se alimentar e não apenas na noite de Natal. O Natal passará. E as mobilizações? Como será o pós-ceia? E a noite de final de ano? E as próximas 365 noites de 2023?
Continuo propondo um pacto contra a fome, onde Poder Público, iniciativa privada e sociedade civil organizada possam, a partir de diálogos, desenvolver estratégias e sensibilizar outros setores a não deixar qualquer pessoa sem refeição. Pois, mesmo com mudanças de governos, não vejo mudança significativa nessa situação se não estivermos todos envolvidos e com nossa sensibilidade e espirito solidário todos os dias ano.
Boas festas e até 2023!
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