Icaro Schultze
Atletas Trans e a complexidade da discussão
Professor e ativista esportivo
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Bonjour! Comment ça va? Bien? Se Sim, és privilegiado. Imagine agora ter uma expectativa de vida de 35 anos, enquanto a média da população é de 74,9. Difícil ser pleno e levar uma vida continuamente tranquila, quando ser quem você é, te coloca em posição de risco. É preciso lutar, primeiro pela vida, e vivendo, batalhar por direitos, igualdade, inclusão e, principalmente, por respeito, para que mudemos realidades.
Neste ano, foram feitos questionamentos sobre a definição de mulher, com o intuito de excluir as trans deste conceito. Afinal, o que nos define? Quem nos define? É importante ficar claro: Mulheres trans, MULHERES. Mulheres Cis, MULHERES. E concluindo: Eu me defino.
Desde 2004 o COI prevê a possibilidade de trans competirem com cis, seguindo alguns critérios. Em 2021, vimos a primeira mulher trans da história competindo nos Jogos Olímpicos. "A falta de representatividade e a falta de conhecimento das grandes massas sobre o assunto acaba tornando o esporte um ambiente insalubre para mulheres trans, que enfrentam muita dificuldade e resistência para se inserirem em práticas esportivas, motivo pelo qual vemos pouquíssimas atletas trans chegando no alto nível. A luta ainda será longa, mas estamos avançando em direção à igualdade entre as mulheres e entre os gêneros no esporte", disse Breno Berny, doutorando em Educação Física e ativista LGBTQIAPN+.
Avançamos, regredimos, e o tema continua sem nenhum desfecho. Semana passada a Associação Mundial de Atletismo proibiu mulheres trans de competir em eventos internacionais. Nenhuma atleta trans que passou pela puberdade masculina poderá disputar competições que valem para o ranking mundial. No posicionamento oficial, o COI reconhece que a identidade de gênero é um direito humano fundamental e apoia a inclusão de atletas trans, desde que seja feito de maneira justa e segura. O COI afirma que atletas trans podem competir seguindo alguns critérios, como ter identidade de gênero consistente e documentada há pelo menos quatro anos e manter níveis hormonais específicos por um determinado tempo. O COB se posiciona a favor da inclusão e diversidade, trabalhando para garantir que todos os atletas possam competir em um ambiente justo e seguro, protegendo a integridade do esporte e garantindo que as regras sejam respeitadas, para que todas as competições sejam justas. Notaram uma semelhança nos posicionamentos? "Justiça esportiva". Hoje a discussão está na busca do equilíbrio em torno da inclusão e da "justiça" esportiva.
Então, mulheres trans podem competir com mulheres cis? Sim. A questão não é esta. Existem 22 modalidades olímpicas mistas. Homens e mulheres competem no hipismo e na vela com condições igualitárias, e a tendencia é que este número aumente. Logo, todos podem competir, desde que não haja injustiça e quebre o processo de isonomia do esporte.
Atualmente, parece que mulheres trans possuem certa vantagem física em relação a mulheres cis em alguns esportes, e os estudos estão avançando rapidamente para que o esporte não seja injusto e ao mesmo tempo não seja excludente. Por isto a discussão ainda não está perto de chegar em uma conclusão concreta. Competições isoladas? Uma modalidade exclusivamente "trans" não seria excludente? Isolar em competições "exclusivas", não parece um bom caminho. Não se inclui excluindo.
Qual o melhor cenário? Conhecimento, integração, inclusão, justiça esportiva e bom senso. Precisamos qualificar e elevar o debate, conhecer as partes interessadas e mirar em soluções. Busquemos conhecimento, é sempre o melhor caminho. A ignorância premeia os maus. Posicionamentos pobres dão munição aos transfóbicos. Não trilhemos este caminho. A luta por igualdade é de todos, a estrada para um mundo melhor só permite transitar juntos. Au revoir.
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