Eduardo Ritter

Bem-vindo a Dudulândia

Acabei de assistir, um tanto atrasado, ao filme da Barbie. Não vou dar spoiler para quem ainda não viu, mas curti a ideia de Barbielândia e Kenlândia. Isso me fez lembrar o título de um dos primeiros discos da Elis Regina, Viva a Brotolândia, que descobri que existia através da leitura de Nada será como antes, biografia da cantora, que comentei aqui na semana passada, escrita pelo jornalista Julio Maria. Aliás, depois da página 127 a coisa melhora. Também me fez lembrar o livro O exército de um homem só, de Moacyr Scliar, em que o personagem declara que a sua casa é um país independente com regras e leis próprias. Outra história que me veio à mente foi a proposta de Hunter Thompson ao se candidatar a xerife de Aspen, no Colorado, nos anos 1970: ia mudar o nome da cidade para Fat City e iria legalizar a maconha. Sancho Pança, por sua vez, acreditou na promessa de Dom Quixote de que ganharia uma ilha para governar do jeito que bem entendesse. Depois de ver o filme, pensar em todos esses personagens megalomaníacos, e tomar umas numa noite fria de setembro, fiquei pensando como seria a minha terra, o meu país, enfim, o meu mundo: a Dudulândia.

A partir da ideia de mundo fantástico, da Barbielândia, o primeiro decreto seria: uma vida sem ressaca. Todos poderiam beber o quanto quisessem que, ao levantar no outro dia, não sentiriam o mínimo sinal de dor de cabeça, dor no corpo, mal-estar e o diabo a quatro. Estariam sempre prontos para a próxima. Aliás, todo o tipo de bebida seria gratuito. Segundo: os moradores da Dudulândia teriam uma necessidade de sono de apenas quatro horas. Assim, eles podem curtir a noite e beber até às quatro horas da madrugada e acordarem renovados às oito da manhã para cumprirem os seus deveres. Na Dudulândia, aliás, tem emprego para todo mundo com ótimos salários e todos têm acesso à educação. O status dos escritores (imageticamente e financeiramente) são semelhantes aos dos jogadores de futebol do Planeta Terra, aquele planeta injusto e desprezível que fica a milhões de anos-luz da Dudulândia. As tecnologias avançam mais do que tudo na galáxia, mas todos reconhecem que a base de tudo é a literatura e a própria história contada através dela.

Na Dudulândia, claro, o futebol é o esporte mais popular e um clube inspirado em imigrantes terráqueos, chamado Grêmio, monopoliza os títulos intercontinentais. Reza a lenda que, na Terra, um tal de Internacional se apresentava como principal rival, mas eles não conseguiram cruzar as fronteiras interplanetárias. Já no que diz respeito a relacionamentos, na Dudulândia, tudo é feito por consenso e o casamento foi abolido: as pessoas encaram a união carnal como uma evolução espiritual onde ambos se beneficiam, e não como algo maléfico e degradado. As almas que se julgam complementares ficam juntas até quando um dos dois julgar que não vale mais a pena e, quando isso acontece, a outra alma agradece pelos momentos vividos e segue a vida, sempre em busca da felicidade. Além disso, todos os adultos prezam pela educação e bem estar da criança, afinal, a infância é (ou deveria ser) a apoteose de qualquer vida.

Além de tudo isso, na Dudulândia, a música não para, as risadas são incessantes, a poesia é declamada por todos os cantos e os orgasmos duram horas. Não há violência, as crianças vivem seu próprio mundo, curtindo jogos e brincadeiras, até serem adequadamente preparadas para o mundo dos adultos. E os que descumprem as leis e regras da Dudulândia tem apenas uma punição: são enviados ao atrasado e lastimável Planeta Terra. Já os de espírito altivo e mente aberta, estão destinados a viver todos os seus dias as felicidades e prazeres da Dudulândia, o melhor lugar da galáxia.

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