Sergio Cruz Lima

Foi um beijo por bem

O Palácio Nacional de Sintra, também nominado Palácio da Vila, situa-se na freguesia de Sintra, na vila de Sintra, distrito de Lisboa, em Portugal. Construção iniciada no século 15, reformada em várias ocasiões da história de Portugal, o palácio apresenta características de arquitetura medieval, gótica, manuelina, renascentista e românica. Considerado um exemplo de arquitetura orgânica, de conjunto de corpos aparentemente separados, mas que fazem parte de um todo articulado entre si, por meio de pátios, escadas, corredores e galerias, o Palácio Nacional de Sintra, utilizado pela família real lusitana, nos últimos anos do regime monárquico foi residência de verão da rainha-mãe dona Maria Pia, derradeira habitante régia do Paço da Vila de Sintra.

Os compartimentos palacianos internos refletem-se em núcleos criteriosamente organizados em torno de pátios, e assim nomeados: a Sala dos Arqueiros, a Sala Moura, a Sala dos Cisnes, a Sala dos Brasões, a Sala das Sereias, a Sala do Pagode, a Capela Palatina e a Sala das Pegas. E foi na Sala das Pegas, um dos mais tradicionais aposentos do Paço de Sintra, cabe-me registrar, que o rei dom Sebastião teria ouvido a leitura de Os Lusíadas, na voz do próprio autor, Luiz Vaz de Camões. Mas é também ali que reside a lenda que o grande escritor J.B. Silva Leitão de Almeida Garrett narra em O Romanceiro, obra de 1843. Ipsis litteris, leiamos o que escreve o grande poeta e romancista luso do século 19.

"Conta-se que dom João I, rei de Portugal, foi apanhado certo dia a dar um beijo na bochecha à donzela mais bela da Corte de Sintra de nome, dona Mécia. E foi apanhado por dona Filipa de Lencastre, rainha inglesa e viciada na ordem moral". O rei ao ser apanhado com a boca na botija, terá dito: "Foi um beijo por bem. Ela é muito bonita e eu quis dar-lhe um beijo, nada mais do que isso". A rainha acatou as escusas, mas atrás da porta estavam outras donzelas e foram falar mal do beijo real. "O rei, quando soube, não gostou. E para castigá-las mandou pintar 136 pegas no teto desta sala, supostamente o número de donzelas da Corte que existiam em Sintra à época. As pegas têm fama de fazer barulho. E como elas fizeram barulho a dizer por mal, ele coloca no bico das aves uma frase a dizer: 'Por bem". Mas como estava a ser acusado de infidelidade, na pega que corresponde à rainha colocou uma rosa - símbolo da Casa de Lencastre - e a sentença: 'A quem sou fiel e agarrado, à minha mulher e a mais nenhuma outra'". Pois é: bem sacaninha se nos parece o tal rei dom João I.

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