Eduardo Caputo
Capitalismo selvagem
Por Eduardo Caputo
Pesquisador associado - Universidade Brown, EUA
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Todo mundo já escutou em conversas de bares, cafés ou rodas de chimarrão alguém comparando as coisas no Brasil, com outros lugares no mundo, indicando que no Brasil deveria ser dessa forma. "Lá nos Estados Unidos é assim", "...na Europa é assado", e dessa maneira vamos fazendo comparações simplórias, e muitas vezes sem levar em conta o contexto dos países colocados em pauta. Curiosamente, por vezes, as pessoas que fazem esse tipo de comparação, nunca foram a esses lugares, têm a informação porque assistiram algum programa, ou leram algo na internet.
Alguns dias atrás fui a Nova York, aproveitar o feriado do dia do trabalho. Sim, o dia do trabalho nos Estados Unidos é comemorado em setembro, no verão americano. Faz aproximadamente oito meses que resido no estado de Rhode Island, distante 292km da big apple. Logo, conhecer esse cenário de filmes e séries de televisão se torna quase obrigatório. Mas, mesmo com todo o seu glamour, riqueza, avenidas sem fim no horizonte e arranhas céus onde o homem-aranha se diverte, tem algo que Nova York tem em comum não somente com o Brasil, mas o restante do mundo. Pobreza!
Me hospedei em um hotel no centro de Manhattan, a uma quadra do famoso hotel Waldorf Astoria, obviamente muito mais glamoroso e caro do que o meu hotel. Se você assistiu Um Príncipe em Nova York, certamente viu a entrada do Waldorf Astoria em uma das cenas que o Rei Joffer desce do carro e adentra ao hotel caminhando sobre rosas, jogadas no chão por seus valetes. Ao sair do local onde estava hospedado, e caminhar em direção ao centro ou ao metrô mais próximo, um local me chamou atenção. Na quadra seguinte a um hotel luxuoso, cenário de filme, havia um centro de ajuda a moradores de rua. Ali, o cheiro de urina era forte, pessoas se enfileiravam ao final da tarde aguardando uma vaga para poder tomar um banho, ter uma refeição quente, e uma cama. Isso lembra outro filme? Sim, se você assistiu A Procura da Felicidade, o personagem de Will Smith, e seu filho, passam por essa situação.
Como é possível que entre duas esquinas, da mesma avenida de uma cidade turística e famosa, possa haver riqueza e pobreza, em níveis quase que extremos, ao mesmo tempo. Enquanto eu estava ali para conhecer a cidade, visitando, explorando e me divertindo, pessoas tentavam sobreviver ao dia seguinte, em uma cidade que se orgulha de sua riqueza, que não é pouca. É claro que comparar a pobreza entre Brasil e Estados Unidos é algo extremamente complexo. Não somente pelas características, história e cultura dos países, e porque o número de pessoas em situação de extrema pobreza por aqui, é quase três vezes menor quando comparado ao Brasil.
Não é minha intenção culpar o governo A ou B, mesmo porque não parece ser essa a raiz do problema. Como bem colocado pelos Titãs, o Capitalismo é selvagem, e por ser assim e imperfeito, gera pobreza, independente do nível de desenvolvimento da cidade, estado ou país. É importante que tenhamos consciência de que vários problemas sociais não são exclusividade nossa, como País, e fazem parte de um sistema econômico e social. Obviamente que não existe um sistema perfeito, mas achar soluções torna-se necessário e urgente. Ao que parece, a estrutura de países desenvolvidos minimiza alguns problemas relacionados à pobreza, porém não acaba com ela. Infelizmente, a pobreza é universal. Não importa se você está no Brasil, Estados Unidos, Austrália ou Marte, ela sempre vai existir.
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