Lisiani Rotta

Crime e castigo

Por Lisiani Rotta
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Não se trata do maravilhoso romance de Fiódor Dostoiévski, mas de um podcast hipnotizante da Rádio Novelo. Das mesmas criadoras de Praia dos Ossos, que eu amei de paixão, Crime e castigo nos faz refletir sobre questões inquietantes. Justiça e vingança são a mesma coisa? O que se faz com alguém que cometeu um crime hediondo? O que queremos quando o criminoso é pego? A ideia de justiça atual está nos atendendo? Ao analisar histórias reais e abstrações, após ouvir entrevistas impressionantes de vítimas ou de seus familiares é difícil responder a essas perguntas sem avaliar a complexidade do tema.

O que é justiça para uma mãe que teve o filho assassinado com sete tiros, uma semana antes da formatura, por causa de um celular? A pena de cinco anos, cumprida pelos réus, foi uma pena justa? Quanto vale a vida de um filho saudável, amoroso, estudioso, com um futuro promissor pela frente? Quanto vale ao país um jovem cidadão que respeita a lei, produz e gera renda? Quanto vale um irmão, um tio, um amigo, um amor? É possível um castigo proporcional ao crime? É possível, para o nosso sistema prisional, recuperar um criminoso capaz de matar por um celular? Que trabalho foi feito com esses criminosos, na prisão, capaz de recuperá-los assim, tão rapidamente? Eles não oferecem mais, risco à sociedade? Qual a nossa responsabilidade, como pais, na formação de jovens indefesos ou agressivos? Que conselho dar a uma criança agredida pelo coleguinha da escola? Da próxima vez revide? Tente conversar? Defenda-se? Que tipo de cidadão estamos formando? O vulnerável ou o agressivo? O que sentimos, o que desejamos, o que é justiça pra nós? Ouvi uma frase num filme que não me sai da mente. “Jamais julgue alguém por um pecado pelo qual você não foi testado”.

É preciso ter uma capacidade de empatia muito acima do normal pra mensurar o que sente a vítima de um crime hediondo e seus familiares. Quem não sofreu na pele pode apenas imaginar. Para algumas vítimas a vingança parece a única reação capaz de acalmar a raiva, a indignação, o inconformismo que a dor lhes impõe. Para outras, o castigo deve ser imposto de modo racional, mesmo que a pena parece insuficiente, desproporcional ao crime. Se as opiniões sobre o assunto dependem das personalidades dos envolvidos, como se define o que é justo? Perdoar é possível? Prisão perpétua? Pena de morte? O que é justiça pra você?

Quando chegou ao fim, Praia dos Ossos me deixou órfã. Fala sobre o crime da Pantera de Minas, Ângela Diniz, que fora assassinada na Praia dos Ossos, em Búzios, pelo namorado. Doca Street foi réu confesso. Durante os três anos entre o crime e o julgamento algo muito estranho aconteceu. Doca tornou-se a vítima. A história é tão envolvente que eu contava os minutos pra chegar em casa e me entregar ao vício. Lembro muito do crime e de sua repercussão, mesmo sendo bastante jovem na época. Um casal lindo, rico, charmoso, que chamava a atenção de todos com seu jeito livre de viver costumava ocupar as crônicas sociais e não as policiais. O país inteiro não falava de outra coisa.

Quando, um tempo depois de ouvir Praia dos Ossos, vi o anúncio de Crime e Castigo, dos mesmos criadores, fiquei animada. E, mesmo sem ter muitas esperanças de ser fisgada do mesmo modo, corri pra ouvir. Bem feito. Errei feio. Fiquei no mesmo estado hipnótico. Eu sou sim, meio compulsiva, intensa e tudo mais, mas também, muito seletiva. Não é porque sou chocólatra que eu me entrego a qualquer bombonzinho. Portanto, confie em mim. Se você gosta de ouvir uma boa história, fica aqui a dica de duas simplesmente imperdíveis. Eu vi no Spotify, mas sei que também tem na Amazon.​

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