Por Thaís Russomano
Médica especializada em Medicina Espacial

Qual não foi a minha surpresa, quando encontrei, derramadas pelo chão, gotas de um estranho líquido. Segui uma a uma até me deparar com um triste Papai Noel chorando. Nesse instante, uma escuridão envolveu nosso encontro. Ficamos mudos por um tempo. Ele, chorando. Eu, observando. Tomei então coragem e indaguei a razão de tanta tristeza. “Não tenho nenhum presente para a melhor das vovós.” As lágrimas do Papai Noel escorriam com tanta rapidez e em tanta quantidade que comecei a juntá-las dentro de um vidrinho. E um milagre ocorreu. Um líquido perfumado emergiu das lágrimas de Noel. “Que maravilha!”, exclamei. Tinha agora um presente para a mais amada das vovós. Papai Noel sorriu satisfeito e sumiu na escuridão. Fiquei parada, atônita. Na minha mão, havia, sim, um pacote. “Vó, te ofereço esse perfume feito de lágrimas e sonhos, Thais.”

Encontrei, recentemente, essa história escrita numa folha de caderno. A data estava rasurada pela sucessão implacável dos calendários. Não me recordo mais desse Natal e nem qual perfume dei de presente para minha vó Rosah. Senti saudades das noites de Natal passadas em Pelotas, quando a vida ainda se estendia à minha frente envolta por infindáveis possibilidades. Isso, sim, era mágico! Senti saudades desse jeito moleque de ser; de rabiscar uma história natalina numa folha de caderno; de imaginar o choro de Noel se transformando em gotas de perfume. Isto, sim, era mágico!

Há muito, meus Natais não ocorrem em Pelotas. A vida desenhou seu caminho e me levou para muito longe. Desde então, nem sempre minhas noites natalinas foram alegres. O mais triste, porém, é que não sou mais capaz de criar um perfume feito de lágrimas e sonhos. “Papai Noel, me devolve essa magia. Esse seria o melhor dos presentes de Natal.”​