Editorial
De costas à lagoa
Dentre as reclamações históricas feitas por moradores do Laranjal e até por quem não vive no local, mas o visita com regularidade ou passa parte do ano nos balneários, é visível que parte delas estão tendo retorno positivo. Vem de algumas gestões municipais, por exemplo, a preocupação com a qualificação da orla, hoje mais organizada e convidativa do que anos atrás. Desde o calçadão à beira da praia até pontos como a recém nomeada praça Vereador Sidnei Fagundes, diferentes locais caíram no gosto do público e hoje reúnem milhares de pessoas a cada final de semana para uma roda de chimarrão, atividades com as crianças, leitura de um livro. Da mesma forma, ruas importantes receberam obras de pavimentação, drenagem, iluminação. Contudo, há uma característica do Laranjal que, infelizmente, Pelotas não consegue superar: a poluição da água.
É comum na cidade a brincadeira que, no Laranjal, muita gente acaba acomodando suas cadeiras de praia "ao contrário", de modo a ficar de costas para a Lagoa dos Patos. Um deboche que tem fundo de verdade e que não deixa de ser, também, tradução da forma como Pelotas lida com um de seus principais patrimônios naturais e gigantesco potencial turístico.
No mais recente boletim divulgado pela Fepam com o monitoramento de 90 diferentes áreas das praias de todo o Rio Grande do Sul, dez deles apresentavam condições impróprias para os banhistas devido a concentrações de poluentes acima do limite seguro para a saúde. Destes dez, oito estão em Pelotas, às margens da Lagoa dos Patos. Ou seja, não há um só lugar na cidade em que moradores ou visitantes possam se banhar em águas minimamente limpas.
Para quem não vive em Pelotas e não tem proximidade com os temas locais, um cenário como este, de total impossibilidade de curtir um banho de praia, pode ser surpreendente, fruto de alguma dificuldade ou fenômeno momentâneo. Contudo, fato é que várias gerações de pelotenses se tornaram adultos privados de usufruir a pleno do Laranjal. E assim segue nos dias de hoje, em que mesmo em dias de orla lotada, compreensivelmente se vê pouca gente na água. Para quem quer se banhar na água doce da mesma Lagoa dos Patos, o caminho acaba sendo a vizinha São Lourenço do Sul.
As causas dessa tristeza pelotense são conhecidas. A incapacidade do Município de resolver suas questões de esgotamento sanitário penaliza o canal São Gonçalo, o arroio Pelotas e, na ponta, a Lagoa dos Patos. As águas que são um potencial inigualável para a cidade são, também, o caminho por onde escoa nosso desrespeito pelo meio ambiente e a prova de que continuamos de costas para nós mesmos.
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