Sergio Cruz Lima
Presidente da Bibliotheca Pública Pelotense
[email protected]

É curiosa a estória do samba.

Conta-se que há muitos anos vivia em solo baiano um negro, escravo, pai de sete filhos. O sonho do velho pai era a carta de alforria. Assim, todo o dinheirinho que conseguia, guardava-o religiosamente para um dia poder comprar a tão sonhada liberdade. Depois de muitos percalços e muita luta, conseguiu amealhar seis contos de réis, que era a quantia exata para comprar a suspirada independência. Mas justamente quando estava perto de alcançar aquilo que mais desejava na vida, o preto velho adoeceu. E ficou muito mal. Mandou chamar o filho mais velho e revelou-lhe o esconderijo da sua pequena, mas suada fortuna. Ao divisar todo aquele dinheiro, o filho ficou alucinado. Resultado: fugiu com as economias do pai e foi residir no longínquo Pará. Ao contrário da perspectiva, o velho não morreu. Curou-se e amaldiçoou o filho ingrato e desleal - desnaturado. Apesar de estabelecido e próspero em terras paraenses, o rapaz vivia corroído pelo remorso. Resolveu, então, enviar um emissário à Bahia para implorar ao pai que lhe perdoasse o ato tão impensado, prometendo devolver-lhe a quantia roubada. Depois de muito relutar, o velho aquiesceu. Mas impôs uma condição: que o perdão fosse dado em uma festa, em solenidade especial, à moda africana. E assim foi feito.

De acordo com o ritual, o velho em dado momento disse: "mofo rijum", o que quer dizer: eu te perdôo. No mesmo instante, os convidados começam a gritar: SAM, que significava "pague", e BA, com o significado de "receba". Logo deram início a um sapateado cadenciado, uma dança até então inédita. Era algo novo a nascer e foi batizado com o nome de samba.

Sergio Macedo, em Seleções Históricas, tomo I, escreve: "Da Bahia de Todos os Santos, o samba passou para Sergipe, onde adquiriu pronúncia sertaneja, voltou a Salvador, onde teve a dicção purificada e recebeu influência melódica europeia. Só então chegou à Cidade Maravilhosa, onde foi finalmente polido e aprimorado". Hoje o samba, expressão máxima da música brasileira, é conhecido em todos os continentes.

Quanto à origem do samba, esta é a lenda ou estória que o povo conta sobre o seu aparecimento. Estória? Lenda? Isso não importa. O certo é que hoje, com pandemia ou sem pandemia, o nosso samba tão brasileiro é uma realidade internacional. Quem não conhece o nosso Carnaval carioca, enfeitado pelas nossas tradicionais escolas de samba e coroado por magníficos sambas-enredo? Em 2007, é vero, o Iphan declarou o samba carioca e três de suas matrizes - o samba de terreiro, o samba de partido-alto e o samba de enredo _ como patrimônio cultural do Brasil.