João Carlos M. Madail
Economia brasileira dá sinais de recessão
João Carlos M. Madail
Economista, professor, pesquisador e diretor da ACP
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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), segundo o IBGE, apresentou queda de 0,08% em junho de 2023, sinalizando que a inflação acumulada em 12 meses é de 3,16%. A notícia, a princípio, é animadora para a maioria da população assalariada que destina a maior parte do que recebe para o consumo de alimentos.
A queda do IPCA é explicada por quatro dos nove grupos estudados pelo índice, entre eles o da alimentação e bebidas (-0,66%) e transportes (-0,41%). Os grupos em queda são aqueles que mais pesam entre os componentes da cesta de consumo das famílias e representam cerca de 42% do índice. Entre os demais componentes estudados, houve quedas no custo da habitação (-0,69%), artigos de residência (-0,42%), vestuário (-0,35%), saúde e cuidados pessoais (-0,11%), despesas pessoais (-0,36%), educação (-0,06%) e comunicação (-14%).
Os dados publicados podem gerar esperanças em relação à queda da inflação, mas são dados levantados no mês de junho de 2023, ainda insuficientes para se afirmar ou comemorar como deflacionários. É necessário que o cenário se repita por alguns meses para que o fenômeno seja considerado como tendência. Além do mais, as reduções de preços precisam ser generalizadas, ou seja, devem afetar uma grande gama de produtos e serviços. Reduções como as divulgadas para o mês de junho não significam deflação, mesmo que influenciem negativamente os índices inflacionários. Para que a deflação seja definitivamente configurada é necessário que todos os preços sejam reduzidos de forma sistemática. Caso isso ocorra, a questão que se impõe é saber se a deflação é boa ou ruim para a economia.
Numa situação de preços em baixa, é natural se pensar em algo positivo, afinal qualquer consumidor gostaria de pagar menos pelos produtos que consome. Caso se tenha a expectativa de que no decorrer do tempo um determinado bem que se pretende adquirir estará com o preço reduzido, vale a pena esperar para comprá-lo mais tarde, caso não se tenha urgência em adquiri-lo. No entanto, a queda generalizada de preços por tempo indeterminado não é aconselhável. Isso significa que o poder de compra das pessoas está reduzido, com pouca oferta de dinheiro em circulação. Nesse caso, os comerciantes e prestadores de serviços são obrigados a reduzir seus ganhos para tentar despertar a demanda entre os consumidores.
Se por um lado há consumidores adiando suas intenções de consumo na esperança de conseguir preços ainda mais baixos no futuro, por outro lado há comerciantes obrigados a reduzir ainda mais seus ganhos e este cenário configura um processo que alimenta a deflação. Como resultado a indústria produz menos, não investe, reduz quadro de pessoal, repassa menos impostos, mas continua na ativa com esperança que a situação possa melhorar. Num cenário pessimista, encerra as suas atividades numa decisão trágica para a economia.
Enfim, a deflação é sinal de baixo crescimento ou economia estagnada e, nesse sentido, contribui para um quadro de aumento do desemprego, queda do poder aquisitivo da população e depressão da atividade econômica. Em geral, a deflação está associada a recessões, pois nesses períodos, a demanda é baixa e contribui decisivamente para a queda de preços. Mudanças nos preços dos produtos podem ocorrer não apenas por um aumento ou redução na demanda, mas também na oferta e seus custos. É prudente que se aguarde os próximos resultados sobre o comportamento do IPCA e demais indicadores, inclusive da taxa de juros, para melhor análise sobre o rumo da economia brasileira em 2023.
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