Rubens Amador
Falando de certa igreja
Rubens Amador
Jornalista
Acaba de ser tombada como monumento histórico a simpática Igreja do Porto, como era conhecida no meu tempo. Ela sempre me tocou muito. Nela aprendi muitos cantos que naquele tempo nós alunos cantávamos. De uns poucos ainda lembro bem. Então eu estudava no Colégio Sagrado Coração de Jesus, ali na Barroso esquina Alberto Rosa e onde hoje funciona um segmento da UFPel.
Era uma escola lassalista. Nosso fardamento era igual ao dos escoteiros. Tínhamos uma boa banda com instrumentos de percussão e cornetas. Eu tocava corneta. Depois caixa e, finalmente, desfilava na frente da banda, como seu chefe, encabeçava os desfiles pelo centro da cidade nos dias dedicados à Pátria. Nosso professor na banda era um soldado da Brigada, excelente cidadão que infelizmente esqueci seu nome. Era o nosso mestre e exímio músico.
Eu tinha apenas 12 anos. Foi o ano em que fiz a Primeira Comunhão. Era nosso padre que chefiava a Igreja do Porto, o padre Chierichetti, que residia com sua irmã defronte a Igreja, pela rua Gomes Carneiro. Lembro-me do dia de minha Primeira Comunhão. Eu de branco, como todos os colegas, e foi no dia 12 de março de 1939, conforme data inscrita no quadro que lembra esta passagem de minha vida - e que guardo até hoje -, assinado pelo padre Chierichetti.
Mais ou menos no ano 2000 vejo com alegria se aproximar de minha atual casa, eu já chefe de família, que por acaso estava na porta, quando vejo o querido padre Chierichetti caminhando lentamente, pois bastante idoso. Atravessei a rua e fui ao seu encontro. Perguntei-lhe se lembrava de mim. Obviamente não lembrava, éramos tantos meninos como eu fui um dia. "Pois foi o senhor que ministrou-me a Primeira Comunhão", disse-lhe. Mostrou-se alegre com aquele reencontro e aquela lembrança.
Convidei-o para atravessar a rua e entrar em minha casa. Ele veio amavelmente e sentou-se na sala. Muito conversamos sobre o Sagrado Coração de Jesus, então colégio. E, para surpreendê-lo, levantei-me e fui ao meu quarto e trouxe o quadro de minha Primeira Comunhão, assinado por ele há dezenas de anos. Ele se emocionou, notei em suas palavras, tal como aconteceu comigo. Lembrei-o de alguns hinos que cantávamos nas missas. Ele sorriu, cheio de saudades.
Muito velhinho, com sua tradicional batina, que jamais tirou, levantou-se e despediu-se. Abraçamo-nos. E fiquei com os olhos marejados de lágrimas enquanto olhava para aquele velho padre que ministrou-me a Primeira Comunhão, sumindo na perspectiva da rua para nunca mais vê-lo.
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