Sergio Cruz Lima

Lorca & Neruda

Sergio Cruz Lima
Presidente da Bibliotheca Pública de Pelotas
[email protected]

Poetas de sucesso, Federico Garcia Lorca e Pablo Neruda viveram vidas diversas, salvo o envolvimento de ambos com o fascismo ou contra ele.

A educação de Garcia Lorca é embalada pelo folclore, por cantigas de ninar, pelo mundo da natureza e pela música, pintura e fantoches. Advogado, logo mergulha no universo da arte, no qual se distingue: produz peças teatrais, compõe para o piano, transcreve canções folclóricas e declama seus poemas em apresentações que testemunhos da época descrevem como eletrizantes. As primeiras peças e os poemas que dramatizam a conflituosa transição da infância para a idade adulta consolidam a reputação. Mais: confirmam a convicção de que o meio ideal para seus versos é ser popular, oral e dramático. Seu Primer romancero gitano evoca ritmos e paixões de um mundo violento e sensual, e muitos dos poemas em Canción de jinete refletem o ponto de vista de uma criança, expressando a dualidade de sua personalidade. E enquanto arrosta uma crise em relação à sua homossexualidade, Lorca visita Nova York em fins dos anos 20 e encontra um mundo estranho, no qual as experiências de medo e isolamento se combinam à condenação da cidade. Em 1931, assume a direção do grupo teatral La Barraca. Nos cinco anos seguintes, viaja muito e escreve a trilogia rural Bodas de sangue, Yerma e A casa de Bernarda Alba. Seu perfil público de produtor de teatro popular, bem como sua sexualidade, o transformam em alvo. É assassinado por partidários do fascismo nos primeiros dias da Guerra Civil Espanhola. Seu corpo, enterrado em cova desconhecida, jamais foi achado.

Ao publicar cinco volumes de poesia aos 22 anos, Pablo Neruda logo consolida sua reputação como escritor graças ao intenso lirismo e prodigiosa criatividade. O segundo livro, Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, de 1924, é popular e se torna logo um "clássico" em face da elegância, doçura e profunda melancolia. Sem renda fixa, o poeta assume postos consulares não remunerados na Ásia. Cada vez mais passa a identificar-se com as massas oprimidas, cujas culturas ancestrais e modos de vida lhe parecem estar sendo esmagados pelo capitalismo, pela corrupção e pela ordem colonial. Novos postos diplomáticos na Espanha e na França o colocam em contato com a vanguarda espanhola e com a causa antifascista e, logo no início da Guerra Civil espanhola, em 1936, ano do assassinato de Garcia Lorca, Neruda se engaja na mobilização de apoio aos republicanos. Na década de 40 é eleito senador pelo Partido Comunista do Chile. Crítico do presidente Videla, cai na clandestinidade. Para evitar a prisão, busca o exílio. Rico e famoso, Neruda retorna ao Chile em 1952. Morre em 1973.

Pessoal, coletivo, mitológico, vanguardista e cósmico, as criações de Garcia Lorca fundem a natureza com os mundos espirituais da infância e do folclore. A obra de Pablo Neruda revela-se por voracidade pelo amor, a vida, a linguagem e infindável capacidade para a invenção e a reinvenção.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Operações Integradas em Pelotas: 6 anos de resultados na segurança pública

Próximo

Falando de certa igreja

Deixe seu comentário