Editorial
Futuro menos violento
Embora os resultados obtidos por Pelotas nos últimos anos no enfrentamento à violência que alcancem maior projeção e reconhecimento perante a comunidade sejam a redução nos homicídios e crimes violentos - o que é natural, já que são a parte mais visível e assustadora do problema -, é preciso reconhecer o grande esforço feito pelo Município para lidar com a segurança pública de forma mais ampla, inteligente e, sobretudo, perene. E é neste sentido que a reportagem publicada na página 8 desta edição chama atenção.
Em uma sociedade em que 26 mulheres sofrem agressões físicas por hora, três são vítimas de feminicídio por dia e uma menina ou mulher é vítima de estupro a cada dez minutos, conforme dados oficiais compilados pelo Instituto Patrícia Galvão, é nítido que apenas investir em leis mais rígidas e em delegacias especializadas na investigação e captura destes criminosos não têm sido suficiente, ainda que sejam pontos muito importantes. Lamentavelmente, permanece ainda muito presente na sociedade brasileira uma cultura de dominação do gênero masculino que, ao extremo, acaba levando a esta barbárie contra as mulheres. Absurdos, aliás, retratados em uma exposição que vai até o dia 30 na Câmara de Vereadores que expõe fotografias de objetos usados em episódios de violência doméstica e feminicídios. É chocante, mas necessário que se veja.
Ao enfrentar essa questão apostando na educação e conscientização de crianças e jovens desde cedo, como tem feito de forma lúdica e com linguagem adequada através do projeto Maria da Penha Vai à Escola, a Prefeitura de Pelotas age com inteligência e reforça a correta percepção de que os casos descobertos, apurados e relatados são a ponta de um gigantesco iceberg. Algo que só existe por conta de uma base submersa para a qual pouco se olha. Afinal, a normalização do machismo, do autoritarismo, do sentimento de propriedade e da prevalência do homem sobre a mulher costuma se dar nos lares, onde muitas vezes o exemplo existente é esse e os comportamentos passam a ser replicados ao longo da vida.
Certamente os estudantes que têm acesso às conversas promovidas pelo projeto, que se veem diante de relatos e informações com tal grau de relevância, passam a enxergar as coisas com mais clareza. E a tendência é que, pouco a pouco, a consciência sobre o tema seja maior e comportamentos abusivos deixem de ser considerados aceitáveis.
Reprimir e punir é, compreensível e necessariamente, uma forma essencial de combater a violência. Mas educar é a maneira mais inteligente de mudar a realidade e evitar o pior.
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