Marcelo Oxley

Gauchão Série A2: o inferno

Marcelo Oxley
Empresário e jornalista
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Podemos chamar de Série A2, Segundona, Divisão de Acesso ou, para o nosso coirmão, "sem série". Não importa a nomenclatura que daremos, quando não se está na elite do futebol gaúcho o abismo parece não ter fim. Rapidamente, deixo aqui meus parabéns a todos os dirigentes que tentam fazer futebol nas condições citadas abaixo.

Engana-se aquele famoso jornal que diz ser raiz o futebol da primeira divisão do Rio Grande do Sul. Eles, de fato, não são sabedores das dificuldades e peculiaridades dos clubes que tentam crescer e alçar voos mais altos nos gramados daqui. Jogar com VAR, gramados regulares, jogos televisionados, dinheiro em caixa (alguns) e não adentrar no inverno gaúcho é como conviver com um futebol próximo da "perfeição". E isso, para o bem do futebol, os clubes da primeira divisão atravessam. Essa situação é ótima, mas não me falem em "campeonato raiz".

Porém, e já aproveitando o assunto, o Campeonato Gaúcho da primeira divisão virou um torneio curto. Se você se descuidar, já nas primeiras duas rodadas estará lutando contra o rebaixamento. A Federação Gaúcha de Futebol (FGF) não tem cooperado e prejudica os clubes do interior. O seu tratamento com essas bandeiras é desumano se relacionado com a dupla da capital. Negar uma cooperação maior com Inter e Grêmio é utopia, pois disputam competições de alto nível. Todavia, não planejar as demais equipes é como não dar chance ao futuro. Jovens promissores nascem fora da grande Porto Alegre, por exemplo.

Corroborando com o último parágrafo e trazendo à Série A2, como poderá ser feita uma folha salarial se, porventura, o seu time estará eliminado em dois meses? Como será o contrato de um atleta? Ele virá por 60 dias de salário? E sua estabilidade? E como os clubes conseguirão patrocínios? Com esse tempo de "bola rolando", como poderia ser uma campanha para mais sócios? Um clube do interior precisa de todos os orçamentos possíveis.

Recentemente fui à Boca do Lobo assistir o meu glorioso Lobão, na sua estreia em Pelotas na competição. O empate foi contra o Inter-SM. A torcida estava em bom número, em meio a um domingo ensolarado. Ambos os elencos tinham jogadores com a cara da "Segundona": poucos sorrisos e amigos, estrutura física enorme e muita transpiração. Cenário oposto ao da "primeirona". É na segunda divisão que também temos um caso de treinador que vira jogador, times angariando recursos para cobrir despesas com viagens e alimentação, equipes viajando centenas de quilômetros no mesmo dia do jogo, elencos torcendo que o segundo semestre seja promissor, etc. É desta maneira que se mantém a Série A2, que se executa um futebol de pura paixão, pois não há outra definição melhor do que essa.

A mágica que os clubes precisam fazer para respirar futebol é de dar água na boca a qualquer mágico. Tira daqui, coloca ali, pega de lá, passa para cá. A expressão "empurra com a barriga" está mais forte do que nunca. Uma ótima saída seria fomentar as categorias de base e torcer, a longo prazo, que a venda de um jovem promissor salve os cofres momentaneamente.

Aos torcedores, será sempre importante um compromisso financeiro mensal: virar sócio. Mas os clubes devem disponibilizar atraentes pacotes a todos os nichos. Dirigentes precisam compreender que sócios servem para colaborar e não podem ser vistos como atores principais, financeiramente falando.

O Esporte Clube Pelotas precisa sair o quanto antes dessa competição. Deve retornar rapidamente para a elite. A visibilidade de um clube depende da situação que se encontra, obviamente.

Mesmo entendendo que a FGF nada tem a ver com os resultados não muito agradáveis de um determinado time, ela poderia refazer, para as próximas edições, Séries A e B com outros moldes, mais atraentes ao interior do Estado que têm apenas na dupla GreNal um alento de espetáculo futebolístico. Deve, urgentemente, tornar mais digna e parelha essa disputa.

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