Por Maria Alice Estrella​

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Nem sempre vêm à lembrança os lugares agradáveis que marcaram a nossa história de vida. Temos a tendência de nos deixar levar pelo descaso da rotina do sempre igual e postergamos prazeres para um depois que raramente acontece.

 
Hoje resolvi mexer na memória e catalogar com etiquetas cada imagem importante que pertence ao meu acervo de inesquecíveis. E para minha surpresa tenho mais locais inesquecíveis do que imaginava. Desde a infância trago comigo paisagens de minha cidade natal que vão de um simples banco de pedra no auditório Araújo Viana, de uma sombra de árvore na praça da Matriz, do quadriculado da calçada na rua da Praia, do gigantesco portão de ferro no Grupo Escolar Paula Soares. Depois, na juventude vejo o contorno do mar desenhado na praia de João Fernandes, a silhueta da montanha adornada com a figura do Cristo Redentor em terras que me acolheram. Mais adiante reencontro a extensa planície do pampa, espalhada até a linha do horizonte, a curva do rio deitada na sombra da figueira centenária. Imagens de ontem e de sempre que tornam certos lugares inesquecíveis.

 
E como um assunto puxa outro, achei por bem relacionar pessoas inesquecíveis. Fiz uma lista de considerável tamanho. Algumas delas cruzaram por mim furtivamente, mas registraram sua presença com firmeza e clareza de detalhes. Outras conviveram por longo período e, mesmo tendo se apartado de mim, imprimiram marcantes e indeléveis traços nessa alma peregrina. Pessoas memoráveis escolhidas pelo destino para trilharem comigo certos trechos da estrada da vida.

 
Momentos inesquecíveis, então, nem dou conta de enumerá-los. São tantos e quantos. Em todas as dimensões da alma se estendem por leste e oeste, norte e sul. Paragens onde nasceram sensações únicas, afetos singulares, emoções das mais profundas. Inesquecíveis. Inesquecíveis como o abraço inaugural, como o carinho sem igual, como a palavra reprimida na garganta que se esvaiu em lágrimas, como o gesto espontâneo que chegou na hora certa.

 
De lugares, de pessoas, de momentos inesquecíveis é tecida uma enorme rede invisível que transpõe o tempo e permanece indelével como muito bem descreveu o poeta: “As coisas que não conseguem ser olvidadas continuam acontecendo. Sentimo-las como da primeira vez. Sentimo-las fora do tempo nesse tempo do sempre onde as datas não datam.” (Mario Quintana)

 
O toque de cada valioso momento, de cada lugar, de cada pessoa que se tornou inesquecível dispensa maiores apresentações. Basta saber do significado intrínseco de tudo que não pode e não quer ser esquecido. Assim como aquele abraço despretensioso e gratuito que a vida nos dá sempre que despertamos.

 
Inesquecível abraço.