Paulo Rosa
La nueva ignorancia
Caps Porto, Ambulatório Saúde Mental, Telemedicina PM Pelotas, Hospital Espírita
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Esse é o título de um livro oportuno. O argentino Santiago Kovadloff, publicou em 2001, pela Emecé Editora, Buenos Aires, um conjunto de 30 ensaios, abordando temas atuais, que vão desde dimensões políticas até questões filosóficas. Digo que é oportuno porque o autor envereda pelo tema da superespecialização, esse aspecto tão comum destes dias, que possui fortes consequências tanto para a cultura quanto para a vida prática. Que me conste não há tradução para o Português.
“Há uma nova forma de ignorância: - diz Kovadloff, página179 - a que é gerada pelo conhecimento, e não por sua carência. A ela se vincula, por consequência, uma nova marginalização, bem conhecida no mundo pós-industrial: é a que resulta no subemprego pela rápida obsolescência do saber altamente especializado”. Homens e mulheres foram muito requisitados, há poucos anos, por seu conhecimento específico, mas hoje em dia esse saber de que dispõem tornou-se insuficiente e velozmente obsoleto, ou quase isso, face ao avanço rápido e incessante das novas tecnologias. “Sabem, mas o que sabem já não serve”. O autor refere como um “cru paradoxo imposto pelo conhecimento especializado”, o fato de que se chegue ao extremo de, figurativamente, termos um conhecimento monumental sobre um ponto ínfimo da realidade, algo como saber tudo sobre nada. A ignorância tradicional, assegura, é aquela gerada pelo fato de valorizarmos uma herança de concepção enciclopedista e apenas retórica do conhecimento. A nova, por outro lado, decorreria de um saber compartimentado, cujas pontes com os demais saberes estão ainda por serem amplamente estabelecidas.
Um alerta pertinente aos pesquisadores de todo e qualquer campo, é o que aponta o risco de “uma alienação perceptiva que acompanha o saber especializado”, página182, fato que poderá se consumar caso o pesquisador “se mostre hostil à consciência de seu próprio limite”. É frequente constatarmos um mal-estar ou, no mínimo, uma indiferença entre trabalhadores das ciências ditas “duras”, como Biologia, Física, Matemática, Medicina e as áreas sociopsicológicas, psicanalíticas ou filosóficas. Vários investigadores trabalharam contra esses preconceitos - Morin, Heisenberg, Einstein, Thomas Khun, Feyerabend, Fernando Pessoa, entre outros, destaca o autor, página 182 -, enfatizando a imodéstia do investigador, que ele vê como “esse corolário com o qual a estupidez estampa seu selo na cara de quem confunde a módica porção de realidade que conhecem com o todo que olimpicamente ignoram”. Em igual medida, assinala Kovadloff, os artistas não ocultam sua indiferença, quando não o desprezo pelas ciências exatas e experimentais.
Ficaria assim delineado um “corporativismo”, para não dizer “um sectarismo intelectual” que mantém afastados os pesquisadores, senso lato, de áreas que poderiam ser sintônicas, mas se mantêm em oposição. Nova ignorância.
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