João Carlos M. Madail

Modelo SAF, futuro do futebol brasileiro

João Carlos M. Madail
Economista, professor, pesquisador e diretor da ACP
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Os clubes de futebol do Brasil são caracterizados como associações civis sem fins lucrativos. A gestão praticada na maioria deles é amadora, mesmo que as exigências em termos de gestão financeira e de pessoas sejam altamente complexas, o que exige competência e habilidade num contexto capitalista. Porém, no futebol brasileiro é comum constatarmos ex-profissionais do ramo atuarem em cargos que requerem capacidade administrativa.

Não há dúvida sobre as dificuldades de um treinador de comandar seus jogadores no sentido da automotivação, do controle dos seus impulsos, mas pouco se comenta sobre as dificuldades dos dirigentes em comandar uma empresa de futebol. Pressionados por torcedores que não admitem derrotas, todos os cargos no clube carregam grandes responsabilidades e expectativas, o que faz necessária a presença de profissionais capacitados, que saibam dar conta da pressão, que entendam do mundo dos negócios, ou seja, administrar a imensa quantidade de contratos que são assinados, além de várias outras habilidades.

O resultado do amadorismo no comando dos clubes são as dívidas acumuladas, onde o Clube Atlético Mineiro acumula dívida superior a R$ 2 bilhões, somado aos gastos para a finalização das obras da Arena MRV. A dívida do co-irmão Cruzeiro ultrapassa R$ 1,5 bilhão, Corinthians com R$ 910,4 milhões, Palmeiras com R$ 875,8 milhões e Internacional com R$ 865,7 milhões. Outros tantos clubes têm dívidas ao redor desses valores. Empresas privadas nesta situação já teriam falido.

Os principais fatores que pesam negativamente no orçamento dos clubes são as dívidas fiscais, ações trabalhistas e juros bancários. A maioria deve para o governo, ex-jogadores e bancos. Como tábua de salvação, num momento aflitivo, surge a Sociedade Anônima do Futebol (SAF), um tipo específico de empresa criado pelo Congresso Nacional em 2021 por meio da Lei 14.193. Entre os clubes que disputam o campeonato brasileiro em 2023, seis deles adotaram o modelo de SAF, sendo o pioneiro a se estruturar desta forma o Cuiabá, seguido do Red Bull Bragantino.

Este tipo de formato SAF, chamado clube-empresa, cresce no Brasil. Ou seja, a gestão do futebol está passando por um processo de profissionalização e, mesmo com dívidas milionárias, um bom investimento e uma administração bem sucedida podem dar retornos mais atraentes para este segmento. Mesmo os clubes pequenos, que não têm grande torcida, conseguem alcançar altos lucros diversificando as fontes de receita, que vão muito além da venda dos direitos de transmissão para a TV. Existem muitas alternativas para atrair lucros, seja na exploração da marca do clube, na atração de patrocinadores, associados ou até negociar ações com pessoas físicas. Tudo isso sem contar com a venda de jogadores já consagrados ou que foram preparados nas categorias de base do clube.

O interesse de investidores na aquisição de clubes no sistema SAF, mesmo endividados, demonstra que é possível a recuperação judicial, numa negociação de dívidas com a mediação do poder público, para que os créditos sejam abatidos por descontos e pagos em novo prazo. A legislação possibilita também que o clube transfira contratos bilaterais com jogadores da associação civil para o clube-empresa, sem que sejam envolvidos no acordo a ser negociado no decorrer da recuperação judicial. Os clubes brasileiros que adotaram o modelo SAF apresentam sinais positivos de recuperação e outros tantos deverão seguir o mesmo caminho, visto que cada vez mais os investidores estão apostando seus recursos no futebol brasileiro, mesmo que no momento os clubes estejam altamente envidados.

O futebol é um esporte que está enraizado na cultura brasileira, resta profissionaliza-lo com a participação de pessoas competentes.

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