João Neutzling Jr
Reavaliando o Plano Real
João Neutzling Jr
Desde o fim do governo militar (1985) o Brasil enfrentou períodos de inflação alta e contínua. Houve inúmeros planos de controlar a inflação galopante como Plano Cruzado em 1986, Plano Bresser em 1987, Plano Verão em 1989. Todos fracassaram. Porém, com o governo Itamar Franco (1992-1995) veio então o Plano Real que logrou obter êxito no controle da inflação.
Para acabar com a crônica inflação brasileira, o Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso reuniu a nata dos melhores economistas brasileiros em um super time: Pérsio Arida, André Lara Rezende, Gustavo Franco, Chico Lopes, Edmar Bacha, Winston Fritsch e Pedro Malan.
Em agosto de 1993 foi criado o cruzeiro-real (uma moeda transitória). Em fevereiro de 1994 foi criada a URV (unidade real de valor). Em 1º de julho de 1994 (há 29 anos) foi substituído o cruzeiro real pela nova moeda o real R$ (antiga URV na cotação de R$ 2.750,00).
Pela excelente gestão monetária a inflação desabou conforme tabela abaixo:
Ano Inflação (% ao ano)
1992 854,63
1993 1.638,74
1994 916,40
1995 147,98
1996 9,20
Fonte: IBGE
O êxito no controle da inflação deu grande popularidade ao então ministro Fernando Henrique que ele elegeu-se presidente em 1994, derrotando Lula do PT, tomando posse em 1995.
O símbolo do novo governo era o real como uma moeda forte, e como isso foi possível? Aumentando a taxa de juros doméstica SELIC para 50% ao ano (aa) em 1994 quando a taxa prime-rate dos EUA estava na ordem de 7,5% aa. Logo ocorreu um enorme ingresso de recursos financeiros proveniente do exterior que se beneficiou da diferencial de juros e da Selic elevada, muito maior que a média dos países ricos.
O enorme fluxo cambial positivo gerou uma sobrevalorização do real face ao dólar. Em consequência disso, em outubro de 1994 a taxa de câmbio chegou a ser cotada em R$ 0,827/US$ 1,00.
Na prática, a política monetária doméstica foi orientada no sentido de sustentar a apreciação cambial que tornava nossa moeda valorizada frente ao dólar.
Como consequência o País teve déficit na balança comercial (exportação menor que importação) de 1995 a 2002 além de aumento do passivo externo líquido, aumento do turismo emissivo, redução do turismo receptivo, redução do nível de produção interna e aumento da taxa de desemprego interna.
Como consequência da taxa de juros elevada, a dívida pública interna explodiu passando de 30,6% para 60,4% do PIB, ou termos absolutos, passou de R$ 70,26 bilhões em 1994 para R$ 881 bilhões em 2002, ou seja, um aumento de 1.158% no período.
O salário mínimo em 1994 era de R$ 64,79 e em 2002 era de R$ 200,00, um aumento de 208%, bem abaixo do aumento na dívida pública.
Em janeiro de 1999 ocorreu a crise cambial brasileira onde o governo abandonou o regime de bandas cambiais e liberou a flutuação do câmbio. Hoje vivemos o regime de flutuação cambial suja, com intervenções esporádicas do BC no mercado de moeda estrangeira.
Em síntese, o plano real estabilizou a inflação, mas seu custo social foi bem pesado para o país. Somente depois de 2002 o País voltou a ter superávit na balança comercial o que aumentou a taxa de emprego e o nível de renda.
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