Editorial

Não há repressão que resolva

É natural que, ao ver uma irregularidade sendo cometida ou ser vítima da mesma, o cidadão tenha reação quase instintiva de acionar a autoridade responsável pela fiscalização. E, muitas vezes, se mostre ainda mais indignado porque o agente a quem cabe coibir o problema não está presente na hora. Não é rara a expressão "eles nunca estão aqui para ver o que acontece".

Ressalva feita a situações em que realmente é essencial a presença permanente ou, pelo menos, nos momentos previsíveis de possíveis transtornos, é preciso reconhecer que não há como policiais militares e civis, guardas municipais, agentes de trânsito e outros tipos de figuras públicas fiscalizadoras ou repressivas darem conta de tudo ao mesmo tempo. E é por conta disso que as infrações acontecem. Não por causa da ausência das autoridades, mas pela cultura existente na sociedade de que só é preciso seguir as regras se houver algum risco de punição.

Dois exemplos muito claros disso estão em reportagens desta edição do DP. A primeira delas sobre o uso das faixas de segurança no trânsito de Pelotas. Na verdade, a dificuldade de muitos motoristas em respeitar o local determinado a dar preferência e proteção ao pedestre. Certamente quem anda pelas ruas da cidade - a pé, de carro, nos coletivos ou qualquer outro meio de locomoção - já flagrou cenas de desrespeito, com veículos cruzando a faixa durante a passagem de pessoas. Na maioria dos casos, pela falta de um flagrante, a infração passa batida. Em outras tantas, vistas por agentes de trânsito, resultam em multas. Mais de 1,1 mil desde 2020. E, mesmo assim, o problema continua.

O segundo exemplo está nos transtornos causados durante as aglomerações noturnas nas avenidas. Embora o problema seja permanente, com moradores inconformados pela falta de ações efetivas do poder público sobretudo no controle da perturbação de sossego, o fato é que muito do que ali se passa se torna quase impossível de ser coibido. Como controlar a falta de educação de quem usa a entrada de locais privados - casas, condomínios, estabelecimentos comerciais - como banheiros? Que tipo de fiscalização daria conta de vigiar dezenas, centenas de homens e mulheres que, sem qualquer pudor, emporcalham calçadas e portas?

A existência de regras e o empenho do poder público em fazê-las cumprir é muito importante. Contudo, não há repressão capaz de vencer a falta de educação e a certeza de muitos de que se pode fazer tudo se ninguém estiver impedindo. Não há sistema de segurança e fiscalização que supere a lógica do "eu primeiro". Só um pacto. E não é o pela paz, é o que une cidadania e coletividade.

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