Artigo
Não neguemos nossos fracassos!
Por Ícaro Schultze
Professor e ativista esportivo
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Salut tout le monde! Recentemente um vídeo viral rodou o mundo. Giannis Antetokounmpo, jogador de basquete, rebate um repórter que o pergunta se o jogador considera que a temporada foi um fracasso. O jogador fica incomodado e questiona se o repórter é promovido todo ano, dando uma lição de vida e moral. Giannis cita Michael Jordan, e relembra que a lenda do basquete jogou 15 temporadas com apenas seis títulos e questiona se foram fracassos as outras nove, dizendo que não existe fracasso no esporte: “Tem dias que são seus e tem dias que não”. A resposta ao jogador vem do livro do próprio Michael Jordan: “Eu fracassei repetidas vezes em minha vida. E é por isso que eu tive sucesso”.
Fracasso é o resultado negativo de uma ação que não atingiu os objetivos, é uma quebra de expectativa ao mesmo tempo que é uma condição necessária para o sucesso, pois é a partir dele que aprendemos a lidar com nossas limitações, encontrar novas soluções e recomeçar com mais experiência. O fracasso pode ser particularmente difícil de lidar nesta sociedade que cultua o sucesso excessivo. Nos sentimos envergonhados em vez de vislumbrar uma oportunidade de crescimento e a frustração pode ser gatilho para ansiedades e depressão. Falhamos, é normal, incômodo e um sentimento inevitável, seja na vida pessoal ou profissional e o aprendizado é fundamental.
No final do vídeo, o jogador reflete que tentarão ser melhores, treinando mais e mudando hábitos. Internamente, ele sabe que fracassaram e que isto faz parte do esporte e da vida. O atleta, sendo um dos melhores jogadores do mundo, sabe que grandes expectativas podem gerar grandes frustrações. A busca por performance máxima é mentalmente desgastante, exige que o indivíduo esteja focado diariamente, é estressante e a derrota e os fracassos quebram as expectativas geradas ao longo do processo, além de causar a falsa sensação de que tudo foi em vão. Ultimamente, atletas como Simone Biles e Gabriel Medina interromperam suas carreiras brilhantes por consequência desta pressão mental, esta semana perdemos uma das maiores velocistas do mundo em consequência de doença mental. Nossa sociedade está doente e é fundamental que aprendamos a lidar com nossas frustrações, não nega-las nem tampouco normaliza-las, mas se valer do aprendizado e do crescimento mental do processo, nesta longa e única temporada da vida.
Giannis está entre os atletas mais bem pagos do mundo, joga nos Bucks, onde fizeram uma primeira fase histórica e foram eliminados por 4 jogos a 1 por um time teoricamente bem inferior, que havia se classificado com a pior campanha. Nos compartilhamentos, poucos pareciam atentos a esse detalhe. Disseminaram o vídeo com foco nas belas palavras sem considerar que o mesmo estava usando de uma fala importante para minimizar o peso das críticas e da pressão que sofreria após uma derrota pesada. A resposta à pergunta era simples: SIM, a temporada do Bucks fracassou, Giannis fracassou e continuam sendo um dos melhores times da história e um dos maiores jogadores de todos os tempos. Giannis é gigante e em sua carreira fracassará muito, assim como Jordan. A realidade paralela do mundo virtual desconsidera os contextos, é perigoso. Precisamos ter cuidado com o que compartilhamos e sempre buscar compreender o complexo mundo que nos cerca e qual o intuito de quem produziu, disseminou e compartilhou qualquer informação. Nem sempre a mensagem que aquece nosso peito é fruto daquilo que acreditamos. Nossos valores às vezes são traídos por paralelos ocultos e talvez a informação esteja deturpada e equivocada, ou talvez seja o errado seja eu, ou talvez sejamos todos. Reflitemos, sempre. Au revoir!
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