Editorial

O alimento que muda uma vida

A manchete que estampa a capa deste final de semana do Diário Popular, e que pode ser lida na página 3, é uma daquelas notícias que doem ao ler, editar e publicar. Como deve incomodar também aos leitores. Ela informa que, baseado em um acompanhamento científico feito pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento (PPGSC) da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), pesquisadores apontaram que um terço das mães pelotenses e seus bebês enfrentam insuficiência alimentar. Especificamente, são 32,4% na primeira etapa de acompanhamento, ainda durante a gestação, e 30,4% na quarta etapa, 18 meses após os partos.

É um dado alarmante, um índice muito alto de mulheres e crianças vivendo em condições de nutrição não só aquém do desejável, mas inferior ao mínimo necessário para garantir condições de saúde e desenvolvimento adequado. Como ressaltam as análises da pesquisa, o reflexo disso, portanto, não é apenas fome. A insegurança alimentar nesta fase inicial da infância está diretamente conectada ao futuro destes pequenos cidadãos. Isso porque a falta dos chamados micronutrientes tende a se refletir em deficiências imunológicas, problemas comportamentais e maior vulnerabilidade biológica.

Estes efeitos, contudo, não estão sozinhos. Basta perceber que um lar com falta de alimentos não tem como ser um local em que as famílias encontrarão tranquilidade e equilíbrio. Ou seja, a tendência é de ser um local onde a constante tensão, preocupação e ansiedade com relação ao presente imediato e ao futuro comprometem as relações. O drama alimentar se estende à interação e vínculos.

Nos últimos anos de crise econômica, com piora acentuada ao longo da pandemia de Covid-19, o drama da fome tornou-se mais presente e visível na vida de milhões de brasileiros. E, como exposto à luz por essa pesquisa da UCPel, é uma realidade que está longe de ser vencida também em Pelotas. Motivo que certamente fez a prefeita Paula Mascarenhas, por diversas vezes, elencar entre suas prioridades como gestora a atenção à primeira infância, no que acerta em cheio. É essencial, portanto, que as políticas públicas locais sejam cada vez mais assertivas, ágeis e capazes de, enquanto o desenvolvimento social ainda é precário, garantir a estas tantas mães e bebês o mínimo necessário. Ou continuaremos vendo gerações de pelotenses crescendo com desenvolvimento afetado pela pobreza, levando essas dificuldades para a vida inteira.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Bomba no pé (Lula agradece)

Próximo

Terrorismo, golpismo, vandalismo

Deixe seu comentário