Nery Porto Fabres
O progresso veio pelo mar do Rio Grande
Nery Porto Fabres
Professor
[email protected]
As longas filas formavam-se no cais do porto. Homens elegantes e mulheres de uma graça exuberante aguardavam parentes e mercadorias que abarrotavam as embarcações transcontinentais. Rio Grande ligava os caminhos à Europa, por aqui se contemplava o renascimento organizado da Europa, se pretendia, com descendentes portugueses, reorganizar o ganho capital das empresas de famílias que, tradicionalmente, controlavam o mercado internacional e a Igreja.
Os bancos se instalavam nesta terra, o surgimento da indústria era inevitável, empresas de exploração marítima montavam estaleiros, armazéns tomavam à vista de todos. Altos e robustos prédios de madeira e pedras preenchiam as areias às margens da Lagoa dos Patos e do canal de acesso ao mar. Mudava o cenário riograndino por razões certas. Pois, lá do outro lado do oceano quase nunca se via paz dentro dos muros das vilas.
Homens sedentos por poder vestiam gostos por guerra, estimulavam o prazer por intrigas, reuniam-se com os representantes da Coroa Real, da Igreja, das juntas comerciais, dos trabalhadores do campo, das colônias de pescadores e de todas as forças necessárias para firmarem acordos políticos com tentáculos apoiados na extensão das fronteiras com países de mesmos interesses.
O excesso de agrados dos reis europeus se dirigia às famílias burguesas que apoiavam os reinados tradicionais. Os portugueses e espanhóis dominavam o cenário com firmeza e patrocínio da Igreja. Já nas terras sulistas desta maravilhosa América do Sul, homens com outros pensamentos abraçavam os herdeiros de toda a elite lusitana que desciam dos navios à vapor.
Máquinas industriais de tecelagem, de corte, de molde de tecidos eram descarregadas pelos portuários que detinham o controle de carga, descarga e cobrança de impostos pela Coroa. Indústrias, comércios, associações, sindicatos, cooperativas e agremiações de todas as ordens se juntavam ao Exército Brasileiro e à Igreja para escolherem os membros dos tabelionatos, juizados, administradores de hospitais e integrantes dos partidos políticos que passavam a liderar quaisquer movimentos sociais. Tomava lugar de destaque a palavra escrita nos jornais impressos por equipamentos barulhentos que impregnavam o ar com o cheiro de lubrificantes das engrenagens e das tintas que marcavam o poder da ideia humana no papel. A imprensa se organizava para imprimir a palavra do poder local.
A Europa mostrava um fuga pacífica para o novo mundo. A dimensão da América brotava na imaginação de se viver num paraíso coberto por matas e abraçado em rios e lagoas de águas cristalinas. Aqui havia espaço, alimento, trabalho e a chance de reorganização social, baseada em uma nova composição política, militar, religiosa e financeira. Rio Grande mostrava um tom de cores nunca antes avistado pelos europeus. As matas, as lagoas, os rios, a laguna de acesso ao mar, as vastas pradarias e o clima poderiam produzir alimentos em quantidade capaz de alimentar grande parte do Brasil.
A dois passos do Uruguai e da Argentina, Rio Grande abria caminhos para as navegações que estreitariam a distância no comércio das Américas. (continua)
(Trecho da obra A história do Rio Grande sob um olhar descontraído)
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário