Sandro Mesquita

Taça das Favelas

A vida adulta nos reserva diversos desafios e responsabilidades naturais para que possamos viver em sociedade e contribuir com o seu desenvolvimento. Os caminhos para se chegar a essa fase são os mais diversos e nem sempre convencionais, mas cada pessoa de acordo com o seu "habitat" e de acordo com sua construção social e oportunidades, vai trilhar pela estrada que primeiro se apresentar dadas as circunstâncias, o que pode ser modificado na próxima esquina.

Os adolescentes e jovens das comunidades vulnerabilizadas tendem a encontrar um percurso às vezes um pouco mais pedregoso, incerto, inseguro. Isso não é vitimização e tampouco justificativa pra não chegar ao destino de ser "bem sucedido" a partir da escolha do que irá fazer, mas sim uma percepção do fato e fenômeno social se assim podemos dizer, de tudo que acontece nesses territórios que às vezes contribui na impossibilidade do êxito em geral.

Várias ferramentas e tecnologias são usadas no estímulo para o desenvolvimento motor, cognitivo e intelectual das nossas crianças e jovens: a educação formal e informal, os esportes coletivos e individuais, capacitações e profissionalização. Enfim, direitos básicos estabelecidos na Constituição e no Estatuto da Criança e do Adolescente.

A Central Única das Favelas tem se valido de vários dispositivos nesse sentido para tentar contribuir com essa evolução e progresso do público dessa faixa etária. Um dos recursos é a Taça das Favelas. Desenvolvida há dez anos nacionalmente, neste ano será disputada aqui no Rio Grande do Sul, com peneiras ou seletivas em 25 municípios.

A Cufa Pelotas já desenvolveu há alguns anos, logo que surgiu na cidade, as seletivas de basquete de rua que contaram com espaço para o skate, desenvolveu projeto de montagem e desmontagem de computadores no Instituto de Menores, já fez por dois anos consecutivos as etapas do RPB - Rap Popular Brasileiro, estimulando a criatividade, a criticidade e a economia da cultura das periferias. Já teve parceria com a UFPel com oficinas de teatro no bairro Navegantes, já promoveu a qualificação profissional de mulheres na área da estética e da culinária no espaço onde existe uma biblioteca comunitária.

Hoje, juntamente com alguns parceiros, se desafia na empreitada de, através da Taça das Favelas, criar um espaço de integração entre os jovens e adolescentes de territórios diferentes, conectar essas comunidades, resgatar o futebol amador, criar uma vitrine para esses jovens que vêem no esporte, e particularmente no futebol, uma possibilidade de ascensão e um dos caminhos possíveis e percorrer. Para além das escolas e dos cursos profissionalizantes, também é preciso criarmos esses ambientes, espaços de convivência onde jovens possam se desenvolver fisicamente. Lugar onde possam correr, pular, lutar e aprender através do esporte a disciplina, o companheirismo, a coletividade, o ganhar e o perder, o sorrir e também o chorar, que nem sempre será o de alegria.

Mas espaços e projetos como a Taça das Favelas trazem a possibilidade de estarmos juntos. De, se tivermos que chorar pela derrota, sabermos que não estaremos sós, que o familiar, o amigo, o vizinho estará ali na arquibancada torcendo para que, como diz no slogan da Taça das Favelas, seja "um gol pra toda vida".

E que surjam aqui na cidade outros Emerson, outros Taison e, como tem surgido desde o tempo que esse torneio começou, outros Vinicius Júnior, entre tantos outros que conhecemos. Que o campeonato da Taça das Favelas venha para ficar em nosso Estado e Município.

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