Marcelo Oxley

Os cem pelos bastidores

Marcelo Oxley
Empresário e jornalista
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O governo de Lula chegou aos cem dias com especulações, não pagamento de promessas, traições e deixando o mercado aflito. Por baixo, e sem fazer muito esforço, é um dos piores inícios de um governo de todos os tempos.

A palavra traição pode ser forte e de fato é. Contudo, Lula está sendo "analisado" não apenas pela oposição, que lhe bate todos os dias, mas também iludido por parte daqueles que até hoje lhe fazem campanha, seus companheiros. O vídeo que viralizou nas redes sociais entre Boulos e Datena não deixa mentir: o "jornalista" banca uma união com o deputado da esquerda para peitar o presidente e ainda, no final do conteúdo, chama o PT de corrupto. Como boa parte da política é um circo com excelentes palhaços, ambos condenaram quem teria deixado vazar a "noitada" e acharam normal suas ações de planejamento. Para decretar o sistema pueril, horas mais tarde foram em seus veículos de comunicações e apresentavam alguma coisa de bom que Lula possa ter feito. É o momento mais baixo e complexo de algo que possamos chamar de caráter. Aliás, não sou conhecedor de um prognóstico petista em relação à acusação de corrupção dita por Datena.

Como jornalista de formação, preciso abrir um parágrafo para essa profissão que está sendo manchada, ludibriada e profanada todos os dias. Não há mais respeito por esse trabalho que deveria ser de apenas levar a informação, imparcial, para o nosso conhecimento. É óbvio que um jornalista deve ter uma opinião, mas não deveria retratá-la naquela empresa que lhe deu uma oportunidade. William Bonner que o diga, mesmo trabalhando na emissora que fez campanha, massiva, para o atual presidente. O que pensar desses métodos jornalísticos introduzidos por Bonner e José Luiz Datena?

Retornando aos cem, temos um cardápio de desastres somente nesse período: Dilma, afastada da Presidência por impeachment, é eleita presidente do Brics; Fernando Haddad vai à China e diz não conhecer a Shein; Marina Silva culpa o governo anterior pelo recorde de desmatamento na Amazônia; Jorge Viana (sem saber inglês) é o presidente da Apex; Presidência, sem licitação, adquire moveis no total de R$ 196,7 mil para o Palácio da Alvorada. E por aí vamos num desacreditado contexto governamental brasileiro.

Gostaria de deixar o melhor, ou na verdade o pior, para esse parágrafo: na comitiva à China estava presente, além de Miguel Torres (presidente da Força Sindical) e Sergio Nobre (presidente da CUT), o líder do MST João Pedro Stédile, que daquele país autorizou novas invasões de terras. Pois bem, a Embrapa de Petrolina (PE), onde o PT obteve quase 70% dos votos, teve suas áreas produtivas e de preservação da caatinga invadidas pelo bando. Um deboche, um soco no estômago. Invasões acontecendo e sendo orquestradas por um cidadão que está ao lado do presidente da República Federativa do Brasil.

No País do tudo pode e do "o bem venceu o ódio", estamos presenciando cenas como as citadas acima. Sem perguntas, oposição ou diferente visão. E "ai de você" que apresentar um pensamento contrário ou achar que essas manobras estão equivocadas. Você será taxado de preconceituoso, arrogante, invejoso ou qualquer termo que esteja rapidamente pronto para ser dito da boca de quem defende e de quem faz.

Tenho saudades daquela esquerda que, porventura, ainda sabia o que era certo ou errado. Confesso que não eram muitos, mas ainda convivo com alguns e temos bons debates respeitosos. Tenho medo dessa "esquerda nutellinha" que surfa na onda do "acabar com o governo anterior". Sem teses, assuntos, ideias ou comprovações.

Foram apenas cem dias! Ainda teremos outros mais e o futuro não me parece próspero, com esse acúmulo de fatos pitorescos. Se não houver alguém que possa segurar essas artimanhas, o que será do Brasil?

"O fanatismo por uma pessoa jamais poderá transcender o que entendemos por certo ou errado. Se isso acontecer, a sociedade estará em risco."

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